Título: Alckmin volta ao país disposto a concorrer à presidência do PSDB
Autor: Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 04/06/2007, O País, p. 4

Ex-governador de São Paulo diz que iniciará caravana de oposição a Lula.

SÃO PAULO. Derrotado nas últimas eleições para presidente, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) voltou animado ao Brasil, ontem, depois de uma temporada de quatro meses nos Estados Unidos. Ele pretende iniciar uma caravana por todo o país para fazer oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e quer ainda conquistar a presidência nacional do PSDB e se candidatar a prefeito de São Paulo, em 2008.

Ao desembarcar no Aeroporto de Guarulhos, às 8h do domingo, Alckmin foi recepcionado por uma claque de 80 tucanos, com faixas e aos gritos de "o PSDB te ama!". Empolgado, o pré-candidato usou um vão do aeroporto e subiu num banquinho para discursar, agradecendo o empenho.

- O triste é que o Brasil está perdendo oportunidades. A gente percebe isso nitidamente quando fica um pouco mais distante. Ah, eu vou ser absolutamente leal aos quase 40 milhões de votos que eu tive no Brasil. Absolutamente leal, no sentido de fazer oposição, fiscalizar, cobrar do governo o que precisa ser feito. Essa é a tarefa da oposição. E ajudar o partido a se organizar no Brasil todo - disse.

"Vou ajudar, trabalhar, sou soldado do partido", diz

Reassumindo o estilo assertivo que o ajudou a vencer em 2005 a disputa com o hoje governador José Serra, e ser escolhido candidato do PSDB à Presidência da República, Alckmin anunciou ter voltado como um "soldado" para fazer oposição a Lula, em nome dos quase 40 milhões de votos obtidos em 2006. Após fazer críticas ao presidente, disse querer trabalhar por seu partido.

- Eu não tenho nenhuma preocupação com cargos. Nenhuma, nenhuma, nenhuma. Vou ajudar, trabalhar, soldado do partido. Não preciso ter cargo público, nem no partido. Não há razão para isso - disse, explicando ainda que fará as viagens para agradecer os votos de 2006 e "ouvir o povo".

Perguntado se iria "capitalizar" a situação, reagiu:

- Eu vou ajudar o país. É fundamental para o Brasil ter uma boa oposição, uma oposição firme, que cobra, fiscaliza. E estou com bastante ânimo. Aliás, tenho conversado com o presidente (do PSDB) Tasso (Jereissati) e disse a ele que vou me incorporar aí como soldado nesse trabalho (de oposição).

O grupo de tucanos ligados ao ex-governador já trabalha com as decisões de Alckmin para os projetos políticos. Querem, primeiro, que o PSDB eleja Alckmin presidente nacional do partido. A decisão interna acontece entre outubro e novembro, mas as articulações devem se encerrar em setembro, quando o ex-governador espera já ter iniciado sua caravana pelo país. Além de Alckmin, o tucano mais cotado é o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE).

Por enquanto, a idéia é lançar a hipótese enquanto se viabilizam as viagens de Alckmin, que aproveitaria o espaço também para conquistar apoios internos país afora. Enquanto marca a oposição tucana a Lula e faz costuras internas, Alckmin funcionará como "regra-três" para a disputa nas eleições municipais de São Paulo. Ou seja: apareceria como a melhor opção, no final de um processo.

Aposta do PSDB para prefeitura de São Paulo

No momento, o PSDB deixará que o prefeito Gilberto Kassab (DEM), aliado do governador Serra, acumule cacife como prefeito e tente a eleição em 2008. O PSDB se contentaria com a dobradinha com o antigo aliado, lançando para vice um nome menos valioso que o de Alckmin, cuja visibilidade ficaria garantida na presidência do partido. Mas, caso o desempenho de Kassab não seja suficiente para garantir uma vitória tranqüila com o apoio tucano, Alckmin deverá ter caminho livre para tentar vencer gigantes de votos em São Paulo, como o PT, da ex-prefeita Marta Suplicy, ministra do Turismo.

- Tudo tem seu tempo. Não há eleição neste ano. Estamos em ano ímpar. Vou trabalhar (gosto do magistério, dou aulas em duas universidades) e ajudar o PSDB, tanto no municipal, quanto no estadual e no nacional. Esse não é um tema para este ano - disse Alckmin.

O ex-governador não economizou ataques ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva:

- As coisas não mudaram. Mais um escândalo de corrupção, 37 ministérios, governo parado e o Lula viajando... Meio ano depois, tudo se repete. Lula ganhou um novo mandato, mas o Brasil não ganhou um novo governo. Nós estamos perdendo oportunidades - disse Alckmin, depois de reclamar que as reformas ainda não saíram do plano das intenções nacionais.