Título: Liminares mantidas por tempo indeterminado
Autor: Gripp, Alan
Fonte: O Globo, 25/04/2007, Rio, p. 15

Adiamento rendia R$18 milhões por mês.

SÃO PAULO. Segundo a PF de São Paulo, outro foco de interesse do esquema era a manutenção de liminares por tempo indeterminado, mesmo que ao fim do julgamento a decisão fosse contrária aos exploradores do jogo. De acordo com os policiais, o adiamento no julgamento de uma liminar por um mês poderia render R$18 milhões a um bingo.

Segundo dados colhidos pela PF junto ao Ministério Público Federal do Rio, uma máquina de caça-níqueis instalada em casa de bingo (mais cara e sofisticada do que aquelas encontradas em bares e padarias) fatura entre R$3 mil e R$3.500 por dia. As grandes casas de bingo têm aproximadamente 200 máquinas cada, o que pode gerar um lucro diário de R$600 mil.

Se um juiz protelar a tomada de uma decisão, mesmo que ao fim seja contrária ao funcionamento das máquinas, o lucro de um mês pode superar R$18 milhões em apenas uma casa de bingo. Cada máquina custa cerca de US$12 mil (R$25 mil). Segundo a PF, este expediente pode explicar o fato de alguns dos três desembargadores e dois juízes federais investigados pela Operação Têmis terem dado sentenças contrárias aos donos de bingo.

Os desembargadores Roberto Haddad, Alda Basto e Nery Júnior, do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3), e os juízes Djalma Moreira Gomes e Maria Cristina Barongeno Cukierkorn, da Justiça Federal em São Paulo, são investigados ao lado de outras 38 pessoas pelo suposto envolvimento em um esquema de venda de decisões judiciais que favoreceriam donos de bingos e empresários interessados em créditos tributários.

Segundo ao PF, alguns empresários pagavam um mensalão de até R$70 mil para a manutenção do esquema.

De acordo com a PF, o perfil dos exploradores de máquinas caça-níqueis no Brasil mudou. Estas máquinas surgiram no Brasil em meados da década de 1990 e se espalharam rapidamente com o objetivo de lavar dinheiro proveniente do tráfico e outras modalidades de crime organizado. Nos últimos anos, a atividade se tornou muito lucrativa e deixou de ter papel secundário na hierarquia do crime.