Título: Aluno de Medicina é nomeado para o Esporte
Autor: Éboli, Evandro e Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 21/04/2007, O País, p. 9

Mesmo sem experiência na área, ex-presidente da UNE ficou com o segundo cargo mais importante do ministério.

BRASÍLIA. Para ocupar a secretaria-executiva do Ministério do Esporte, segundo cargo mais importante na pasta, foi nomeado o estudante de medicina Wadson Nathaniel Ribeiro, de 30 anos. Ele não tem qualquer experiência na área, mas tem duas qualificações para a indicação: é filiado ao PCdoB e trata-se de um ex-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), tal qual o ministro do Esporte, Orlando Silva.

Wadson Ribeiro foi candidato a deputado estadual em Minas Gerais, ano passado, e obteve 10.494 votos. Não se elegeu. A nomeação de Wadson foi publicada no Diário Oficial desta semana, assinada pelo presidente Lula e pelo ministro. O secretário-executivo é o primeiro na linha de sucessão e é quem ocupa o ministério, interinamente, em caso de ausência do titular. Wadson estuda medicina na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Ele presidiu a UNE entre 1999 a 2001 e atua há vários anos no movimento estudantil.

O novo secretário do ministério presidiu também a União da Juventude Socialista (UJS) e integra atualmente o Conselho Nacional da Juventude, ligado ao governo federal. Ele liderou várias manifestações contra privatização das universidades públicas. Wadson tem uma página pessoal no orkut, onde não há qualquer referência sobre seu interesse por esporte. No seu perfil, ele diz que é "preciso pavimentar o caminho para as forças progressistas avançarem ainda mais sobre a oposição conservadora desanuviando e iluminando em frente".

O GLOBO tentou falar ontem com Wadson, por intermédio da assessoria de imprensa do Ministério do Esporte. Os assessores informaram que o secretário não foi localizado e que falaria na próxima terça-feira.

Nos últimos dias, as nomeações para cargos de segundo e terceiro escalões federais estão aparecendo com mais freqüência no Diário Oficial. Cargos técnicos e de menor visibilidade são resolvidos sem grandes disputas. Ontem, por exemplo, saiu a exoneração do presidente da Radiobrás Eugênio Bucci, substituído pelo vice, José Roberto Barbosa Garcez. O Senado oficializou a escolha do ex-ministro da Saúde Agenor Álvares para a presidência da Anvisa, já acertada entre o ministro José Gomes Temporão e Lula.

Os maiores problemas são indicações políticas. No Ministério da Agricultura, por exemplo, a forma da indicação do ex-deputado Silas Brasileiro para a secretaria-executiva provocou atritos no PMDB: o ministro Reinhold Stephanes o escolheu, ninguém tinha nada contra ele, mas o partido fez questão de opinar. No final, concordou com a nomeação, que foi carimbada como escolha de todo o partido e não só de Stephanes.

Os petistas reclamam da voracidade do PMDB e dos aliados na ocupação de cargos federais. De fato, o PMDB tem conseguido emplacar muitos indicados. Até pessoas ligadas a adversários declarados de Lula. Há poucos dias, nomeou para a Secretaria de Desenvolvimento do Centro-Oeste, do Ministério da Integração Nacional, Antonio Parente, aliado do ex-governador Anthony Garotinho (PMDB-RJ). Conhecido como Totó Parente, foi coordenador de Garotinho na pré-campanha presidencial do ano passado, antes de o partido decidir que não teria candidato. O ministro Geddel Vieira Lima chegou a fazer restrições ao nome de Totó. Ele teve como padrinho o deputado federal Carlos Bezerra (PMDB-MT).

COLABOROU Gerson Camarotti