Título: Serra quer ser ponte com governo
Autor: Oliveira, Eliane e Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 22/04/2007, O País, p. 10

Governador se aproxima das bancadas no Congresso.

BRASÍLIA. Depois de ser preterido ano passado na disputa interna no PSDB pela vaga de candidato à Presidência, o governador de São Paulo, José Serra, não quer perder tempo. Aos poucos vem pondo sua tropa de choque em campo para pavimentar o caminho da candidatura ao Planalto em 2010. Ciente de que novamente terá um adversário de peso - desta vez, o governador mineiro Aécio Neves - Serra traçou uma estratégia de aproximação das bancadas tucanas no Congresso. Quer se credenciar como um dos novos interlocutores do partido junto ao PT e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E ainda amplia sua condição de porta-voz influente dos governadores.

A tática já provoca reações. Esse teria sido um dos motivos que levou o presidente do partido, senador Tasso Jereissati (CE), a aceitar de pronto o convite de Lula para uma audiência no Planalto na última quinta-feira. O gesto recoloca Tasso como o interlocutor oficial dos tucanos perante o governo. E já há quem defenda que o senador - um contraponto para Serra no PSDB - seja reeleito no fim do ano.

A influência crescente de Serra junto à bancada tucana foi fundamental, por exemplo, para a vitória do petista Arlindo Chinaglia (SP) na disputa para a presidência da Câmara. O gesto lhe garantiu a abertura de um canal de diálogo com não só com o PT, mas também com o governo.

Hoje, o governador tem mantido contatos com a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que na última quarta-feira o recebeu e lhe franqueou o acesso ao gabinete presidencial para uma conversa com Lula sobre o endividamento dos estados, sem previsão na agenda.

A avaliação feita pelo grupo de Serra é que, se Lula mantiver os atuais índices de popularidade, aquele que se apresentar com um adversário radical perderá eleitores. O problema é que Aécio já veste esse figurino há mais tempo.

Serra diz que seu contato com as bancadas tucanas no Congresso e mesmo com dirigentes de outros partidos não representa novidade em seu comportamento e nem teria objetivos eleitorais camuflados. Ele lembra que foi graças esse tipo de contatos que conseguiu aprovar, durante o período em que foi ministro da Saúde no governo Fernando Henrique, nada menos do que seis projetos de lei - entre eles o que garantiu a fabricação de genéricos e a proibição da propaganda de cigarro - e duas emendas constitucionais, como a que ampliou a vinculação orçamentária para a saúde.