Título: Afinando o piano
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 17/04/2007, O Globo, p. 2

Dividido sobre a questão do fim da reeleição, o PSDB trata de afinar seu discurso interno. Este é o sentido da visita que a cúpula da bancada na Câmara fez ontem ao governador de Minas, Aécio Neves, que, como seu colega paulista, José Serra, declarou-se a favor da mudança. Divergências sobre a instalação de uma CPI no Senado, antes da decisão do STF sobre a da Câmara, aumentaram a distância política entre o PSDB e seu parceiro histórico, o Democratas, ex-PFL.

Os sete deputados que almoçaram com Aécio ontem alegam estar começando uma série de encontros com governantes e dirigentes do partido, no esforço para definir sua agenda política e resgatar suas bandeiras, algumas das quais abandonadas pelo caminho. Precisa também o partido fazer logo um esforço de reestruturação para não ser mesmo aniquilado pelo lulismo. Lembra o deputado Júlio Redecker, líder da minoria, que há sete estados em que o partido não elegeu um só deputado, e outros sete em que elegeu apenas um. Isso significa que andou se derretendo nas últimas eleições.

- Obviamente a questão da reeleição está na agenda, e o partido tem que se definir, mas este não foi o tema exclusivo da conversa com o governador - disse o primeiro vice-presidente da Câmara, Narcio Rodrigues.

A mudança pode interessar aos demais partidos, e ao próprio Lula, mas interessa muito ao PSDB. Sem reeleição, será mais fácil acomodar os competidores internos (leia-se Aécio e José Serra), e será mais célere a renovação do partido. Como Fernando Henrique teve uma reação contrária, forte e imediata, os tucanos agem para explicitar que esta é a inclinação da maioria. Serra voltou a se pronunciar a favor do fim da reeleição. Aécio ontem fez o mesmo, defendendo também o mandato de cinco anos. Se os dois, os que mais contam, são a favor, os que são contra acabarão isolados.

Em relação ao governo, é duro o dilema dos tucanos. Diante de um presidente altamente popular e de um governo bem avaliado, mesmo quando a deficiência gerencial explode, como na crise aérea, parte deles acha que fazer uma oposição sistemática e sectária como a do DEM é contraproducente. Por outro lado, uma postura indulgente teria um efeito letal sobre sua base social. No caso da CPI, não é para ajudar o governo a evitar sua instalação no Senado, onde tem maioria precária, que os tucanos insistem na necessidade de esperar a decisão do STF. Mas a leitura que fica é a outra.

- Não negociamos nada com o governo. Queremos investigar sem dó nem piedade. Creio que o DEM não está compreendendo nossos motivos. Se a CPI for instalada no Senado, o STF pode desistir do julgamento, alegando que o objeto da ação não existe mais. E nós, da oposição, precisamos muito de que este julgamento ocorra, e resulte na afirmação do direito da minoria. Do contrário, corremos o risco de aceitar a ditadura da maioria governista - diz Júlio Redecker.

No Senado, o líder do DEM, Agripino Maia, tem outros argumentos.

- O tempo está passando e nem sabemos quando virá a decisão do Supremo. Enquanto isso, o governo age para convencer a sociedade de que a CPI é desnecessária. Faz isso quando investiga e demite na Infraero ou quando manda a PF fazer ações espetaculares como esta dos bicheiros. Os senadores do PSDB entendem isso. Os deputados, não sei. Mas nesta altura, a CPI do Senado já se tornou inevitável.

Se for mesmo instalada, a preponderância será do DEM, papel que na Câmara seria do PSDB, que propôs a CPI. Também por isso eles se estranham.