Título: Agenda nova
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 10/04/2007, O Globo, p. 2

Ao mesmo tempo que deflagra a partilha do segundo escalão entre os aliados, o governo elege a prorrogação da CPMF e da DRU como novas prioridades. Previne-se: caso venha a CPI do Apagão Aéreo e, com ela, uma nova crise, esses pilares do PAC podem ser comprometidos. Com a nova agenda, cutucou os governadores. Alguns deles cobraram ontem o cumprimento das promessas feitas na reunião de março: Aécio Neves (PSDB), Paulo Hartung (PMDB) e Marcelo Déda (PT).

A distribuição de cargos não deve ser criminalizada por si mesma. É prática inerente aos governos de coalizão. O pecado vem quando os nomes não atendem às exigências éticas ou técnicas do cargo. Isso ocorreu muitas vezes no primeiro mandato de Lula, quando a partilha dos cargos foi comandada temerariamente pelo ex-dirigente petista Silvio Pereira. O governo promete outro método. Os partidos farão seus pedidos, o ministro das Relações Institucionais, Mares Guia, tentará mediar o acordo quando houver conflito. Conflitos não faltarão: o número de sócios aumentou, e o PT ainda detém a maioria dos cargos, devendo resistir à partilha. A consistência da coalizão será fortemente testada. Mas há quem minimize a reação petista, alegando que boa parte dos nomeados no mandato já não tem representatividade no partido. A ver.

Quando o governo antecipa a votação de medidas com a DRU e a CPMF, que poderiam esperar até setembro para ser votadas, revela o temor de que a situação política venha a se deteriorar por conta da CPI da crise aérea. A preocupação foi explicitada ontem na reunião do Conselho Político. Os governadores sempre esperaram este momento como o mais propício a uma negociação em que pudessem arrancar concessões da União. Agora percebem que o governo federal tenta amarrar a partilha dos cargos à votação dessas matérias de forma a neutralizar a influência que possam ter sobre as bancadas. Em Minas, o tucano Aécio Neves reagiu:

- A relação entre homens públicos, sobretudo de partidos distintos, deve ser pautada pela confiança. Fomos àquela reunião com o presidente, apesar de desencontros anteriores, acreditando num tempo novo. Mas até agora o acertado não foi cumprido, e o Governo já vem com uma agenda nova. Ela não avançará se os estados continuarem ignorados. É um alerta, não uma ameaça.

O petista Marcelo Déda e seu secretário da Fazenda também percorreram gabinetes do governo ontem cobrando as medidas combinadas. Ao final do dia, entretanto, dizia ter constatado que as providências técnicas estão sendo tomadas. Acha ainda que estão criadas as condições para a aprovação da reforma tributária.

- Em verdade, usamos licença poética para chamar de reforma tributária o que se resume à criação do IVA, federal e estadual, para substituir o Cofins, o ICMS e o IPI. Mas os estados consumidores podem ganhar com a cobrança no destino. O meu ganharia 9% em receitas.

Esse jogo, entretanto, só começa depois que for desbloqueada a pauta da Câmara, travada por sete MPs. O Democratas (ex-PFL) continua fazendo obstrução. O líder do governo, José Mucio, busca um acordo com o PSDB e o PPS. Não conseguindo, o governo tentará aprovar as medidas na marra, sujeitando a coalizão a longas e desgastantes votações sob boicote.