Título: Buraco engole pessoas e carros
Autor:
Fonte: O Globo, 13/01/2007, O País, p. 3

Desabamento no Metrô de SP deixa seis desaparecidos, quatro feridos, e pára parte da capital

SÃO PAULO

Um túnel em construção da linha 4 do Metrô de São Paulo desabou ontem à tarde, engolindo carros, caminhões e ameaçando as casas de 80 famílias da região. Segundo o Corpo de Bombeiros, uma van da empresa Transcooper teria sido soterrada pelo deslizamento, com pelo menos seis pessoas a bordo ¿ incluindo passageiros, motorista e cobrador. Um operário que trabalhava na obra foi resgatado vivo sob os escombros, depois de pelo menos quatro horas de buscas, e quatro outras pessoas saíram feridas. O Metrô não divulgou as possíveis causas do acidente, o quinto desde o início da construção do trecho ¿ que ligará a estação da Luz, no Centro, à Vila Sônia, na Zona Oeste. O trânsito na área virou um caos, com a interdição da Marginal Pinheiro. Operários da obra e moradores da área viveram horas de pânico, e muitos não poderão voltar tão cedo para casa.

A empresa de transporte público Transcooper informou durante a tarde que um microônibus estava desaparecido. Segundo o vice-presidente da empresa, Paulo Roberto dos Santos, o serviço de localização via satélite do veículo (GPS) registrava que o microônibus estaria num perímetro de 20 metros do local do acidente. À noite, os bombeiros encontraram o veículo sob os escombros, mas as pessoas continuavam desaparecidas.

O desmoronamento ocorreu na região de Pinheiros, Zona Oeste da cidade. Abriu uma cratera de 80 metros de diâmetro, com 30 a 35 metros de profundidade, o equivalente a um prédio de dez andares. Cinco caminhões, dois carros, dois tratores e uma caminhonete caíram na cratera, segundo dados preliminares dos bombeiros, mas o número pode ser ainda maior.

Por receio de mais acidentes, o prefeito da cidade, Gilberto Kassab (PFL), interditou um raio de 200 metros a partir do local do desabamento, o que incluiu a marginal Pinheiros. A marginal é um dos principais pontos de escoamento do tráfego de caminhões e carros de São Paulo. Como efeito desse bloqueio, o congestionamento em toda a cidade no início da noite chegava a 141 quilômetros, acima da média diária registrada em todo o ano passado (116 quilômetros).

Por volta das 14h15m, os 40 operários da obra do Metrô disseram ter ouvido estalos no túnel em construção. O desabamento começou às 15h e, durante toda a tarde, o solo ao redor da cratera ainda cedia.

¿ Contamos os funcionários e não perdemos nenhum ¿ disse o presidente do Metrô, Luiz Carlos David, horas antes de os bombeiros encontrarem um operário sob a terra.

Segundo ele, como o desabamento foi lento, os operários teriam conseguido sair do canteiro de obras sem ferimentos graves. Mas David alertou para a possibilidade de haver pessoas nos caminhões que ainda estavam sob os escombros.

David não deu informações sobre as causas do acidente. O prefeito Gilberto Kassab disse aguardar os laudos técnicos para divulgar o motivo do desabamento. Segundo ele, os laudos devem ficar prontos na próxima semana. O governador José Serra ¿ a obra é do governo estadual ¿ só chegou ao local por volta das 20h30m e disse ter ficado impressionado com as proporções do acidente.

Houve dois grandes deslizamentos de solo abrindo a cratera na obra, além de pequenos desabamentos durante toda a tarde. Até a parede de concreto da obra cedeu. A energia elétrica e o gás foram cortados na região para evitar mais acidentes. Centenas de moradores também ficaram sem telefone devido ao desabamento.

Cerca de 80 casas são interditadas

Até a noite de ontem, havia um guindaste de 50 toneladas que ameaçava cair sobre os imóveis da região. Cerca de 80 residências foram interditadas, algumas com rachaduras. A prefeitura cadastrou as famílias para conseguir abrigo durante a interdição, que não tem data para acabar. Em pânico, os moradores tiveram poucos minutos para pegar alguns pertences e abandonar as casas.

Segundo o secretário dos Transportes Metropolitanos, José Luiz Portella, que falou em nome do governador José Serra (PSDB), o solo ainda estava cedendo e as obras de engenharia só poderão começar quando houver estabilidade no terreno. Ele admitiu que a grua, uma espécie de guindaste da obra, ainda poderia cair. Chegava a 1.500 o número de moradores e comerciantes afetados diretamente pelo desabamento.

Cerca de 500 pessoas trabalharam ontem para socorrer vítimas e conter os danos do desmoronamento. Com a interdição, aquela região da cidade parou.