Título: Álvaro Lins estava sendo investigado pela Polícia Federal desde 2003
Autor: Werneck, Antônio
Fonte: O Globo, 27/12/2006, Rio, p. 15

Ex-chefe de Polícia Civil diz que seu nome foi usado por policiais

O ex-chefe de Polícia Civil e atual deputado estadual eleito Álvaro Lins (PMDB), apontado pela Polícia Federal como um dos policiais envolvidos com a máfia dos caça-níqueis, vinha sendo investigado pela PF desde 2003, um ano antes de ser deflagrada no Rio a Operação Gladiador. Ele aparece em relatório do delegado federal Cláudio Nogueira, da PF de Brasília, depois de ter seu nome mencionado por policiais civis supostamente envolvidos na máfia dos combustíveis, reprimida pela PF na Operação Poeira no Asfalto, em 2004. Um policial apareceria citando valores de propina que policiais receberiam de empresários acusados de pertencerem à máfia e citaria Lins.

Delegado de Brasília estava investigando desde agosto

Segundo o delegado Alessandro Moretti, da Polícia Federal de Brasília, Álvaro Lins seria ¿o chefe de um grupo de policiais civis¿ que agia na Zona Oeste ligado à chamada máfia dos caça-níqueis. Moretti estava no Rio desde agosto do ano passado investigando a organização criminosa. O controle sobre o mercado de máquinas caça-níqueis deflagrou uma guerra entre os contraventores Rogério Andrade e Fernando Iggnácio. O ex-chefe de Polícia e atual deputado estadual nega todas as acusações e diz que seu nome foi usado por policiais.

Lins, ainda segundo Moretti, teria trocado as chefias de delegacias da Zona Oeste e influenciado na escolha de outras unidades no estado com o objetivo de ter assessores controlando os negócios das máquinas. Moretti lembrou ainda que as quadrilhas contavam com a proteção de policiais civis.

Durante a Poeira no Asfalto ¿ que consumiu mais de dois anos de investigações ¿ a Polícia Federal descobriu que um grupo de policiais civis, militares e federais dava proteção a empresários acusados de adulterar gasolina. Esses policiais estariam cobrando até R$40 mil por mês de propina de empresários ligados à máfia dos combustíveis. O dinheiro ¿ ao qual os policiais se referiam como ¿mensalão¿ antes de ter vindo à tona o escândalo político em Brasília ¿ era distribuído para evitar a fiscalização ou apreensão de caminhões. Ao menos cinco delegacias são citadas na investigação como beneficiárias do esquema de propina.

Nomes de policiais já estão com o MP federal

Os nomes dos policiais e a relação das delegacias aparecem em relatório da Polícia Federal entregue ao Ministério Público federal e à Justiça federal. Eles também são acusados de tráfico de influência, de envolvimento com contrabandistas e de receberem dinheiro para escoltar os comboios de caminhões com combustíveis adulterados.

Ao todo 52 pessoas acusadas de envolvimento com a máfia dos combustíveis, 47 delas presas pela Polícia Federal na Operação Poeira do Asfalto, foram denunciadas pelo Ministério Público federal. Todos responderão por formação de quadrilha. São 17 policiais rodoviários federais, dois fiscais do estado, um bombeiro militar, dois servidores do estado, dois funcionários da Feema, empresários e funcionários de empresas. Os servidores públicos estão sendo acusados ainda dos crimes de corrupção ativa e violação de sigilo funcional. Os empresários e seus funcionários responderão por corrupção ativa e falsidade ideológica.