Título: Aldo teve de sair escoltado para não ser agredido a tapas por vereadores
Autor: Lima, Maria e Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 22/12/2006, O País, p. 4

Sessão que adiou aumento foi marcada por bate-boca entre os deputados

BRASÍLIA. Debaixo de xingamentos, críticas de estudantes e até do bispo, protestos de sindicalistas que insistiam em distribuir vidros de óleo de peroba no aeroporto e na entrada da Câmara, a última quarta-feira foi um dia de muita tensão para os deputados em Brasília. Na data fatal para que os líderes desistissem ¿ pelo menos este ano ¿ do pretendido aumento de 90,7% para o subsídio dos parlamentares, deputados com os nervos à flor da pele se agrediram verbalmente no plenário.

A longa e tensa sessão terminou com o presidente da Câmara , Aldo Rebelo (PCdoB-SP), escoltado por seguranças para que não fosse agredido a tapas por um grupo de vereadores inconformados com sua decisão de impedir a votação de uma PEC (proposta de emenda constitucional) que ressuscita vagas cortadas pela Justiça Eleitoral em algumas cidades.

Ao longo do dia, na reunião de líderes e no plenário, os fluminenses Miro Teixeira (PDT), Fernando Gabeira (PV) e Chico Alencar (PSOL) se estranharam o tempo todo. O tempo fechou quando Gabeira, da tribuna, criticava Miro por ter defendido o teto de R$24.500 e anteontem ter apresentado um projeto para acabar com a verba indenizatória. Foi ¿farsante¿ para lá, ¿mau caráter¿ para cá...

¿ Se querem fazer um concurso de quem se sacrifica mais pelo país, deputado Miro Teixeira, eu já não tenho um pedaço do fígado, do estômago e do rim... Eu topo tudo pelo Brasil! Eu não estou de brinquedo! E não aceito que venham fazer essas pequenas tramas neste momento histórico! É falta de respeito. Essas duas propostas, senhor presidente, são uma farsa ¿ atacou Gabeira.

¿ Muito pior que faltar uma parte do corpo é faltar o caráter! ¿ devolveu Miro.

¿Está todo mundo doido¿, diz Maia

Terminada a guerra pelos salários, Aldo Rebelo, que exibe sempre uma paciência de Jó nos momentos mais tensos, perdeu as estribeiras na hora da votação da lei de incentivos ao esporte. Alguns deputados começaram a falar ao seu ouvido, tentando conduzir a votação. Muito irritado, Aldo jogou os óculos na mesa e reclamou que, com tanta pressão, não era possível continuar:

¿ Assim não é possível!

Depois da aprovação, um grupo de atletas, liderado por Robson Caetano, Hortência, Virna, Bernardinho e Fernanda Venturini, foi convidado a entrar no plenário para se confraternizar com parlamentares. Nervoso, o deputado Paulo Delgado (PT-MG) foi ao microfone exigir que Aldo aplicasse o regimento e retirasse o grupo do plenário. Aconteceu aí o bate-boca mais pesado.

¿ Presidente, eles são brilhantes, mas não tiveram um voto! Isso aqui é um bordel! Vossa Excelência não enfrentou o Judiciário (na questão do aumento). Precisa agora enfrentar o esporte. Estou falando na amizade... ¿ cobrou Delgado.

¿ Aí não tem amizade nenhuma! Deputado Paulo Delgado, não venha descarregar sobre essa Casa e sobre minha pessoa seu ressentimento tardio! Com todas as deformações que possui, essa Casa o acolheu nos últimos 20 anos e não merece essa expressão ¿ respondeu Aldo, cortando o som de Delgado.

Quem assistiu ao diálogo ficou perplexo com a explosão pouco habitual de Aldo.

¿ Está todo mundo doido. Esse processo todo deixou as pessoas com os nervos à flor da pele. O Renan nos deixou sozinhos nessa ¿ disse o líder do PFL, Rodrigo Maia( RJ).

O próximo embate foi com os vereadores que ocuparam as galerias. Justamente o líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), defendeu a votação da medida, adotada para moralizar as Câmaras municipais.

¿ Meu Deus do céu! Acabamos de enterrar um problema, se votássemos essa PEC o Congresso seria novamente catapultado para a mídia ¿ disse o deputado Ivan Valente para Aldo Rebelo.

O deputado Antonio Carlos Pannunzio (PSDB-SP) protestou e pediu verificação de quórum. Aldo atendeu e, como o mínimo de 3/5 não foi atingido, encerrou a sessão provocando grande indignação nos vereadores que gritavam do plenário:

¿ Vocês já estão desmoralizados mesmo, vão ver! Quatro anos passam rápido.

¿ Estamos desmoralizados mesmo. Até vereador vem aqui nos esculhambar ¿ lamentava o deputado Gastão Vieira (PMDB-MA).

Corredor polonês para Aldo

Os vereadores desceram logo das galerias e fizeram um corredor polonês na passagem de Aldo até seu gabinete. Muito agressivos, partiram para cima do presidente aos berros. Um deles tentou levantar uma mesa para jogar, mas, com o peso, caiu junto com ela, provocando tumulto, enquanto os seguranças protegiam Aldo.

¿ O senhor tirou nosso mandato! Faz discurso de PCdoB, mas é um comunista que quer de volta a ditadura! ¿ gritava o ex-vereador de Planaltina de Goiás Fernando Junior.

¿ Não venha com ameaças que não funciona! ¿ reagiu Aldo, falando grosso.