Título: Aliados minam poder de petistas no governo
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 17/12/2006, O País, p. 12

Cresce pressão para que Lula aumente a participação de outros partidos no Ministério, tirando espaço do PT

BRASÍLIA. Os partidos da base do governo Lula, agora com maior poder de pressão, não querem repetir a experiência que viveram no primeiro mandato do presidente. O PT, com uma bancada de deputados e senadores que representava 25% dos votos da base no Congresso (91 deputados 14 senadores), ficou com 64% dos cargos federais e de segundo escalão nos estados. A correção desse desequilíbrio foi a principal reivindicação que os partidos aliados levaram ao presidente e ao ministro de Relações Institucionais, Tarso Genro, nas sucessivas reuniões para tratar do governo de coalizão.

Para se garantir contra o apetite dos petistas, os aliados propõem que a adoção de uma regra da verticalização, pela qual o partido que tem o ministro ocupe também os cargos de confiança da pasta, no segundo escalão e nos estados.

¿ A intenção do presidente é verticalizar, se ele fizer isso a situação melhora bastante e dá para acomodar a base do governo ¿ diz o líder do PR (ex-PL), deputado Luciano Castro (RR).

Coordenação de governo analisa nomes indicados

O ex-líder do PCdoB Renildo Calheiros (PE) diz que, se não houver mudanças, a base continuará sujeita a crises, submetendo o governo a barganhas, cada vez que for preciso aprovar um projeto no Congresso.

¿ Se as coisas se mantiverem como no primeiro mandato, os problemas políticos vão recrudescer. A maior falha do primeiro mandato foi na relação com a Casa. O PT não pode querer um parceiro só na hora de votar. Tem que abrir o governo ¿ diz o líder do PTB, José Múcio (PE).

O petebista lembra que o presidente Lula afirmou que iria cuidar pessoalmente da questão dos cargos. Os aliados avisaram que não vão repetir a experiência de quatro anos atrás, quando suas indicações foram rejeitadas, sob a alegação de que os nomes propostos não eram qualificados. No entanto, petistas foram nomeados sem uma avaliação rigorosa.

¿ Tem que mudar. Quem tem o Ministério dos Transportes indica os representantes do Dnit nos estados. Essa é a tendência e isso nos agrada ¿ diz o líder do PP, Mário Negromonte (BA).

A coordenação do governo ¿ ministros Tarso Genro (Relações Institucionais), Dilma Rousseff (Casa Civil) e Luiz Dulci (Secretaria Geral) ¿ está levantando as indicações políticas feitas para os cargos federais e de segundo escalão. O complicado será afastar petistas para abrir espaço aos aliados.

A coordenação do governo concluiu que no primeiro mandato o presidente errou ao deixar essa tarefa nas mãos apenas de petistas, como José Genoino (ex-presidente do PT), José Dirceu (ex-chefe da Casa Civil), Silvio Pereira (ex-secretário-geral do partido), Delúbio Soares (ex-tesoureiro) e Marcelo Sereno (ex-secretário de Comunicação e assessor da Casa Civil).

Petistas querem que Marta e Viana sejam ministros

A direção petista priorizou na ocasião o atendimento às reivindicações das tendências petistas. Hoje, a coordenação de governo dá razão à oposição numa de suas principais críticas: o governo Lula, em muitas áreas, foi transformado num aparelho político, tal era a desqualificação técnica dos nomeados.

¿ Vamos mudar no segundo mandato. Os partidos aliados terão maior participação no governo. O segundo mandato deixará de ser um governo do PT. Não só os espaços, mas também as decisões serão compartilhadas ¿ diz o secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci.

Apesar da nova disposição do governo, o PT trabalha para emplacar dois novos ministros: o ex-governador do Acre Jorge Viana e a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy. O nome de Marta é citado para as pastas da Educação e das Cidades. Viana é citado para as Relações Institucionais, caso Tarso Genro seja nomeado ministro da Justiça. Por isso, os petistas ficam exasperados com os aliados, sobretudo com o PMDB.

¿ Você acha adequado o PMDB pedir seis ministérios e as presidências do Senado e da Câmara? ¿ pergunta indignada a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC).