Título: ARMAS EM USO NO RIO SÃO BRASILEIRAS
Autor: Maria Lima
Fonte: O Globo, 22/11/2006, Rio, p. 17

Relatório de CPI mostra que 81% do armamento são de fabricação nacional

BRASÍLIA. O relatório final da CPI do tráfico de armas, apresentado ontem pelo relator Paulo Pimenta (PT-RS), faz uma radiografia do contrabando, roubo, desvio e venda ilegal de armamentos no Brasil, concluindo que no Rio de Janeiro, estado onde há mais mortes por armas de fogo no país, 81% das armas irregulares apreendidas de 1951 a 2003 foram fabricadas por empresas brasileiras. Segundo a CPI circulam hoje no Brasil 17 milhões de armas, sendo que metade é ilegal e quatro milhões estão nas mãos do crime organizado.

Pedido o indiciamento de 16 suspeitos

O relatório pede o indiciamento de 16 pessoas. A maioria não é de traficantes de armas, mas de advogados da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo. O texto só será votado no dia 29. Ontem, o deputado Alberto Fraga (PMDB-DF) pediu vistas. Ele é considerado como um dos principais integrantes da bancada das armas. O relator Paulo Pimenta diz que, com o pedido de vistas, completará o cruzamento das 150 mil armas apreendidas de forma irregular no Rio, sendo 15 mil que nas mãos dos bandidos. Uma dificuldade é o fornecimento de dados de armas fabricadas pela Taurus.

- A Taurus alega que perdeu os seus arquivos em um incêndio - disse Pimenta.

Ao fim dos trabalhos, o relator diz que há uma enorme disparidade entre a organização criminosa e a capacidade de fiscalização do Exército e dos órgãos de segurança nos 16 mil quilômetros de fronteiras do Brasil. Segundo Pimenta, muita arma que entra de contrabando é de fabricação nacional, exportada para países vizinhos, como o Paraguai, e que reingressam no país por contrabando.

"A análise inédita de mais de 150 mil armas levou esta Comissão a revelações surpreendentes, e gravíssimas, como a denúncia de que a maioria esmagadora das armas apreendidas com a bandidagem foi originalmente vendida pelas fábricas brasileiras a lojas estabelecidas, e para o próprio Estado, principalmente para suas polícias, e daí foram desviadas para o crime", diz o relatório de Paulo Pimenta.

Entre as armas de fogo apreendidas no Rio, 81% nunca tiveram registro. A maioria é de revólveres de origem brasileira, da marca Taurus A porcentagem de pistolas e fuzis apreendidos teve um crescimento acelerado na última década. No caso dos fuzis a maioria é de fabricação americana, seguida pelos fuzis fabricados na China, na Alemanha e na Rússia, todos AK-47 ou cópia desse padrão. Entre eles também se encontra o fuzil da Imbel, nacional, de uso exclusivo do Exército e da PM.

O relatório propôs o indiciamento no Rio de Walter dos Santos Paraíso, tenente-coronel do Corpo de Bombeiros. Ele é acusado de posse ilegal de arma de fogo de uso restrito, comércio ilegal e tráfico internacional de arma de fogo.