Título: Acadêmicos criticam metas de crescimento
Autor: Helena Celestino
Fonte: O Globo, 04/11/2006, O País, p. 10

Reunidos em Nova York com investidores para discutir o próximo governo Lula, eles dizem que proposta é `jogo de cena¿

NOVA YORK. A proposta de criar metas de crescimento para a economia brasileira foi considerada jogo de cena político pelos economistas que se reuniram ontem em Nova York com investidores e analistas de mercado para discutir o próximo governo Lula. Eles concordaram que se trata de uma falsa discussão a tentativa de fixar taxas para a expansão da economia.

¿ Acho que não é uma discussão substantiva. Quais são os instrumentos para fazer isso? ¿ pergunta o economista Edmar Bacha, do Instituto de Estudos de Política Econômica e assessor do Banco Itaú.

O raciocínio é que o governo fixa metas de inflação porque o Banco Central pode usar a política monetária ¿ especialmente as taxas de juros ¿ para controlar a alta geral dos preços. Mas, dizem eles, o governo não tem instrumentos para induzir o crescimento da economia e manter a inflação baixa.

¿ As pessoas ainda acham que crescimento vem com política. Crescimento econômico vem com ganhos de produtividade, com investimentos do setor privado e na educação ¿- disse o professor Albert Fishlow, diretor do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Columbia.

¿ Todos os políticos vão querer fixar metas de crescimento. Potencialmente, metas de crescimento estão em oposição à responsabilidade fiscal e metas de inflação ¿ disse Carlos Pio, professor da Universidade de Brasília.

Reunidos em Nova York, num programa conjunto da Universidade de Columbia e o Conselho das Américas, os três discutiram os desafios do segundo mandato de Lula. Para Fishlow, aumentará a tensão entre os desenvolvimentistas e os defensores da austeridade fiscal nos próximos quatro anos. Para ele, o Brasil está se movendo para a esquerda devido à enorme desigualdade de renda, o que fica demonstrado com a vitória do PT no Nordeste e a quase morte do PFL.

Acadêmicos receitam reforma fiscal para crescer

Edmar Bacha traçou três cenários e batizou-os de tedioso, assustador e excitante. Disse que, apesar da dificuldade de fazer previsões no Brasil, achava mais provável que os próximos quatro anos fossem bem parecidos com os quatro últimos.

¿ O tedioso seria mais do mesmo. No panorama internacional, haveria só uma pequena redução de crescimento e, internamente, a continuação do que vem acontecendo. Isso significaria que o Brasil cresceria de 3% a 3,5% e, daqui a dez anos, a Standard&Poor¿s daria o grau de ¿investiment grade¿ para o país ¿ disse Bacha, referindo-se à classificação de risco da corretora americana.

Da mesma maneira que o mercado financeiro, os acadêmicos receitam reforma fiscal para garantir crescimento. O professor Fishlow lembrou que 90% das despesas do governo são reguladas pela Constituição e que 13% do PIB são engolidos pelos gastos da Previdência.

¿ O Brasil está indo para um caminho em que acomoda melhor os idosos e os não contribuintes e gasta menos com a nova geração, que é o futuro do país ¿ disse Fishlow.