Título: Uma campanha bilionária
Autor: Bernardo de la Peña e Francisco Leali
Fonte: O Globo, 04/11/2006, O País, p. 3

Candidatos a deputado, a senador e a governador gastaram pelos menos R$1,039 bilhão

As prestações de contas feitas pelos candidatos a deputado estadual e federal e a senador nos 27 estados ¿ além das que foram apresentadas por quem concorreu a governador onde a eleição se decidiu no primeiro turno ¿ mostram que as campanhas custaram aos partidos políticos pelo menos R$1,039 bilhão. O dinheiro foi gasto na confecção de material gráfico, nos programas de televisão, com aluguéis de veículos, telefones e imóveis e com toda a estrutura utilizada nas campanhas.

Mas os gastos no país com as eleições devem passar muito da casa do bilhão: o número não inclui as prestações de contas dos candidatos que disputaram o segundo turno das eleições em dez estados, nem dos candidatos à Presidência. Para eles, o prazo dado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para apresentar as contas de campanha só terminará no fim deste mês. Para se ter uma idéia do que isso significa, apenas nas campanhas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do tucano Geraldo Alckmin as estimativas de custo oficiais são de aproximadamente R$210 milhões.

Cada voto teria custado R$8,25

Com um eleitorado de aproximadamente 126 milhões de pessoas e com base no que já foi declarado pelos candidatos, cada voto teria custado aos políticos R$8,25. Levando-se em consideração os gastos feitos na campanha e o eleitorado de cada estado, Roraima foi o que apresentou o maior custo por voto para os políticos: R$71,40. Em seguida, aparecem o Distrito Federal (R$22,70) e Tocantins (R$22). Um dos estados onde, em tese, os candidatos gastaram menos para se eleger foi o Pará, onde o custo por voto foi de R$3,60. No Rio de Janeiro, estado no qual vivem 10,8 milhões de eleitores, esse valor ficou em R$6,30.

Mas esse dinheiro não saiu apenas dos caixas dos partidos. A maior parte dos recursos é de empresas que fizeram doações para as campanhas e têm interesse em fechar contratos com o poder público ou em decisões tomadas pelos novos governantes e parlamentares eleitos em 1º de outubro.

Embora muitos candidatos possam estar com as suas prestações de contas atrasadas, dados fornecidos pelo TSE mostram que as doações para as campanhas superaram em quase R$200 milhões os gastos declarados até agora. A soma de toda a receita que os candidatos declararam ter tido nas eleições chega a R$1,2 bilhão.

O estado onde a eleição movimentou mais dinheiro foi São Paulo. Lá, os candidatos eleitos e derrotados desembolsaram, segundo suas declarações ao TSE, R$233,6 milhões. Em Minas Gerais, o preço da campanha estadual foi o segundo maior do país: R$110,8 milhões. De acordo ainda com os dados do TSE, o Amapá foi o estado como a menor movimentação de dinheiro: R$1,4 milhão.

Os 27 senadores que se elegeram também gastaram pelo menos R$25,5 milhões em suas campanhas. Uma das mais caras foi a do ex-governador de Goiás, o tucano Marconi Perillo, que conquistou uma cadeira para representar seu estado no Senado. Perillo declarou ter gastado aproximadamente R$3,5 milhões na sua campanha.

O tucano contou com doações do seu partido, de empresas de fertilizantes e indústrias instaladas em Goiás e até da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Entre os senadores eleitos, um dos que declararam ter tido menos gastos foi o maranhense Epitácio Cafeteira (PTB), que informou ter gastado apenas R$81 mil na sua campanha.