Título: ABEL: VEDOIN QUERIA VENDER DOSSIÊ CONTRA MERCADANTE
Autor: Chico de Gois
Fonte: O Globo, 24/10/2006, O País, p. 11

Candidato derrotado do PT a governador de SP nega; advogado do chefe da máfia também desmente empresário

CUIABÁ. O empresário Abel Pereira, acusado pela família Vedoin de receber propina para facilitar a liberação de emendas em favor das empresas do grupo Planam durante a gestão do ex-ministro da Saúde Barjas Negri (PSDB), negou que tenha se beneficiado do esquema dos sanguessugas e declarou que Luiz Antônio Vedoin queria lhe vender documentos contra o senador Aloizio Mercadante, candidato derrotado do PT ao governo de São Paulo. Mercadante reagiu, negando qualquer ligação com a máfia das sanguessugas.

Abel disse que foi procurado em três ocasiões pelos Vedoin, que lhe ofereceram material que supostamente mostraria que o petista agia na liberação de emendas. As declarações de Abel, no entanto, mostraram-se contraditórias e não foram confirmadas pelo advogado da família Vedoin.

Em depoimento à Polícia Federal, em Cuiabá, Abel disse que foi procurado por Luiz Antônio Vedoin em agosto. Os dois se encontraram no Shopping Iguatemi, em São Paulo. Na ocasião, segundo disse, Vedoin teria dito que tinha documentos que comprometeriam a candidatura de Mercadante e que o material poderia tirar do petista ¿uns cinco pontos percentuais¿ nas pesquisas. Mercadante, que perdeu a eleição para José Serra (PSDB), nunca ameaçou o tucano, segundo as pesquisas.

Abel afirmou que os Vedoin, com quem se avistou ¿umas duas ou três vezes¿, acreditavam que ele tinha contato com a alta cúpula tucana, razão pela qual o procuraram. Em 24 de agosto, Abel foi a Cuiabá. De manhã, Luiz Antônio telefonou para que se encontrassem, mas não apareceu. Outro telefonema, às 14h30m, pedia para Abel, que estava com seu advogado Newman Pereira Lopes, ir a uma loja de conveniências. Chegando lá, outra ligação pedindo para que Abel fosse à Multicópias, empresa do ex-genro de Darci Vedoin.

Abel diz que Vedoin não foi ao encontro

Na Multicópias, Abel desconfiou que estava sendo filmado por uma câmera num laptop e pediu para que a conversa fosse em local público. Marcaram encontro num bar perto do Hotel Taiamã. Às 19h30m, Ronildo Medeiros, que constituiu empresas para dar cobertura à Planam em licitações viciadas, chegou ao bar, mas, segundo Abel, apenas para informar que Luiz Antônio não poderia comparecer.

Apesar de ter mantido dois contatos com os Vedoin e um terceiro com um preposto, Abel disse que ¿não tinha interesse pelos tais documentos contra Mercadante¿ nem sabe dizer o que continha o material nem quanto a família pedia pela papelada:

¿- Eu lhes disse que não tinha por que me infiltrar neste assunto porque não sou político, mas apenas empresário.

Segundo Abel, os Vedoin o procuraram para oferecer documentos contra o PT porque acreditavam que ele tinha contatos com o PSDB. Para justificar sua afirmação, Abel confirmou que intermediou um encontro do ex-prefeito de Jaciara Valdizete Martins Nogueira com o então ministro Barjas Negri. O prefeito queria liberação de verbas para a construção de um hospital. E conseguiu rapidamente. A empresa que ganhou a concorrência para construir o prédio foi a Cicat, de Abel.

Querendo descaracterizar o vínculo com o então ministro tucano, o empresário afirmou, durante entrevista, que não mantinha contato com Barjas Negri há pelo menos cinco anos. Mas bastou telefonar para o gabinete do então ministro e, dez dias depois, a audiência estava marcada.

¿- Ele me atendeu porque sou de Piracicaba, como ele ¿ alegou o empresário.

O senador Aloizio Mercadante negou qualquer ligação com a máfia dos sanguessugas.

¿- Nunca tive nenhuma emenda liberada para esta turma. Ao utilizar esse argumento, ele tenta ocultar a verdadeira negociação da qual o PSDB tinha conhecimento ¿ acusou o senador.

O advogado de Luiz Antônio Vedoin, Eloi Ricardo Reffatti, também desqualificou o depoimento de Abel.

¿ É a primeira vez que ouço menção ao nome de Mercadante. Duvido que seja verdade ¿ afirmou.