Título: ALCKMIN E A POLÍTICA EXTERNA
Autor: Rubens Barbosa
Fonte: O Globo, 10/10/2006, Opinião, p. 7

Apolítica externa é seguramente o setor de maior contraste e diferença entre os programas de governo do PT e de Alckmin, não só do ponto de vista conceitual, como também no tocante às ações concretas do Itamaraty.

Segundo se lê no programa de governo de Alckmin, a política externa vai retornar a seu leito natural buscando ser ¿ como historicamente sempre foi ¿ consensual e suprapartidária. No governo Alckmin, ela será tratada como política de Estado, dentro de uma perspectiva de médio e longo prazos, em que o interesse nacional está acima de visões conjunturais, ideológicas ou de governos que passam.

Uma política externa atuante e eficiente, num cenário internacional cada vez mais complexo, pressupõe uma Chancelaria moderna nos seus meios e métodos de trabalho.

O maior ativo do Itamaraty é e continuará a ser os seus recursos humanos, que devem ser estimulados mediante uma gestão profissional que valorize os diplomatas e neles reconheça o mérito e a dedicação, antes que inclinações ideológicas ou filiações a grupos partidários.

São as seguintes as principais linhas de ação da política externa de Geraldo Alckmin:

1. Relações bilaterais

¿ Ampliar as relações com todos os países de nosso entorno geográfico e recompor as relações do Brasil no âmbito da América do Sul, com base em interesses recíprocos;

¿ Estreitar laços com os países do Norte da América do Sul, que compartem as riquezas e os desafios da região, revigorando, entre outras ações, o Tratado de Cooperação Amazônico;

¿ Intensificar o controle e a vigilância de nossas fronteiras;

¿ Intensificar as relações com os centros mais dinâmicos da economia global. E sem esquecer nossas ligações e obrigações históricas com os países menos desenvolvidos, restabelecer a prioridade das relações com os países desenvolvidos;

¿ Ampliar o relacionamento com os países de escala continental, como China, Índia, Rússia, com base na reciprocidade de interesses e não com a ilusão ideológica de que são ¿aliados naturais¿ num eventual conflito com os EUA;

¿ Dar prioridade ao nosso tradicional relacionamento com o Japão e não perder de vista as oportunidades de convergência com a Coréia do Sul;

¿ Ampliar o relacionamento com os países da África, em especial a África do Sul e os da Comunidade de Países de Língua Portuguesa;

¿ Explorar, no Oriente Médio, as oportunidades econômicas de relacionamento com os países árabes, e não deixar de lado o que Israel pode oferecer em matéria de capacitação tecnológica;

¿ Melhorar a prestação da assistência aos brasileiros no exterior, inclusive em situações de emergência, dotando os consulados de recursos e condições adequadas.

2. Integração regional

¿ O Brasil está situado na América do Sul, tendo fronteiras com dez dos doze países do subcontinente. Esta circunstância sempre determinou como prioridade cultivar o bom relacionamento em nosso entorno e fazer a melhor política e a melhor economia dentro de nossa geografia;

¿ A integração regional continuará a ser central na política externa brasileira, com ênfase na defesa do interesse nacional, sem ideologia nem politização dos entendimentos, para evitar o risco de isolamento na região e promover na região os valores compatíveis com os adotados pela sociedade brasileira;

¿ Prioridade será dada às iniciativas de integração física, energética e comercial.

3. Organismos multilaterais

¿ É legítimo e razoável que o país possa almejar um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU em uma eventual ampliação. Hoje, contudo, certamente interessa mais ao Brasil aproximar-se, com passos medidos e seguros, da OCDE, ou ser acolhido num G-8 ampliado;

¿ Definir estratégia e prazo para a retirada das forças brasileiras do Haiti, depois de cumprido nosso papel na transição para a democracia naquele país;

¿ Segundo o programa, o governo Alckmin vai levar adiante as negociações comerciais multilaterais (Rodada de Doha), regionais (Mercosul) e bilaterais (Mercosul-União Européia, entre outras) sem politização, buscando de forma objetiva o interesse do país e dos agentes econômicos nacionais. Essas negociações, assim, não ficarão subordinadas apenas aos objetivos da política externa, mas, no contexto de uma nova estratégia, buscarão resultados positivos que não foram alcançados nos últimos quatro anos.

Comentários sobre a proposta de nova estratégia de negociação comercial ficam para o próximo artigo.

RUBENS BARBOSA é consultor e presidente do Conselho de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).