Título: ADMISSÃO RECORDE NA PETROBRAS
Autor: Ramona Ordoñez
Fonte: O Globo, 08/09/2006, Economia, p. 19

Contratação de 7 mil este ano é a maior em três décadas. No governo Lula, alta é de 33%

No mesmo ano em que os preços do petróleo atingiram níveis históricos acima de US$70 o barril, o Brasil chegou à auto-suficiência na produção e o país terá eleições presidenciais, a Petrobras baterá recorde também na contratação de pessoal. A companhia está admitindo sete mil empregados em 2006, a maior contratação já feita pela estatal nas últimas três décadas. O número representa alta de 16% em relação ao fim do ano passado.

No governo Luiz Inácio Lula da Silva, houve forte expansão das atividades da Petrobras. A quantidade de pessoal próprio da empresa cresceu perto de 33%, passando de 34.540 em 2002 para cerca de 46 mil no fim deste ano.

E o volume de vagas abertas só se compara aos níveis dos anos 60 e 70, quando a estatal iniciava sua rota de crescimento com a construção de refinarias e a descoberta de petróleo na Bacia de Campos, no Norte Fluminense. Este ano, cerca de cinco mil pessoas já foram admitidas até junho, para trabalhar nas áreas operacionais, como plataformas e refinarias.

As contratações não param por aí. A gerente de Planejamento de Recursos Humanos da empresa, Mariângela Santos Mundim, informou que a previsão é chegar a um quadro próprio de cerca de 62 mil empregados até 2015, superando o patamar de 1989 ¿ quando começou o processo de enxugamento, que se estendeu aos anos 90. Esses números são só da holding, sem contar trabalhadores de subsidiárias e no exterior.

Sindicalistas temem terceirização maior

Mariângela explica que o ritmo acelerado de contratações visa a permitir que a estatal atinja as metas de produção para os próximos anos. A Petrobras vai aumentar de tamanho em cinco anos. Com um investimento previsto de US$87,1 bilhões, a empresa pretende saltar de uma produção no Brasil de 2,1 milhões de barris de petróleo e gás para 2,9 milhões de barris (mais 38%), em 2011. O incremento esperado é de 7,8% ao ano na produção. O aumento, contudo, não será apenas de 800 mil barris diários, uma vez que também é preciso repor a queda da produção devido ao declínio natural dos campos.

A Petrobras chegou a ter 60 mil empregados próprios em 1989. A partir do início da década de 90, a política do governo foi a de fazer cortes de pessoal no setor público e estatais. Com programas de incentivo à demissão e aposentadorias, a Petrobras atingiu o menor número de funcionários em 2001: 32.809 empregados. A partir de 2001, penúltimo ano do governo Fernando Henrique Cardoso, com o incremento de suas atividades, a empresa voltou a fazer concursos públicos. E, a partir de 2003, as admissões ficaram em torno de 2 mil por ano, em média.

Diante da necessidade de um contingente maior de funcionários, diz a Petrobras, a estatal decidiu elaborar um plano estratégico de recursos humanos. Não só para estabelecer o número de funcionários necessários na holding e subsidiárias, como também para definir políticas de pessoal e o plano de cargos e salários. Mariângela explicou que, como o ritmo de crescimento da companhia é acelerado, o plano estratégico de RH será concluído até o fim do ano:

¿ Alguns projetos desse plano já estão em andamento porque a empresa não pode parar. A grande diferença agora é que a questão de recursos humanos passou a ser o foco da direção da companhia.

O coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Hélio Seidel, lembrou que, com a forte redução de pessoal dos anos 90 e o aumento da produção de petróleo, cresceu a terceirização. Segundo ele, o elevado número de terceirizados levou a um aumento no número de acidentes.

Hoje a Petrobras tem cerca de 155 mil empregados terceirizados, número considerado muito alto pelos sindicalistas. Segundo Seidel, porém, a Petrobras acelerou a admissão de pessoal próprio. Mas os sindicalistas temem que, com a expansão das atividades, a Petrobras eleve o contingente de terceirizados. Isso porque, após a admissão, o empregado passa por um período de, no mínimo, dois anos de treinamento, para atuar em atividades como operação em plataformas e refinarias.

Seidel admitiu que o ritmo de trabalho da Petrobras está tão acelerado que é difícil até para os sindicalistas acompanharem a questão.

¿ As atividades da companhia estão crescendo tanto que temos receio que o ritmo de contratações diretas não acompanhe, e isso force a empresa a aumentar os terceirizados, fazendo aumentar os acidentes.

Edmar Luiz Fagundes Almeida, do Grupo de Economia de Energia da UFRJ, destacou que é característica das petroleiras terem muitos terceirizados. Ele lembrou que a Petrobras reduziu pessoal nos anos 90 devido à queda dos preços do petróleo e à política de corte nas estatais.

¿ O governo mudou a política de terceirização, que estava exagerada, atingindo áreas operacionais e administrativas onde as atividades só devem ser feitas por pessoal próprio.

A gerente de RH da Petrobras disse que a política é ter empregados próprios nas atividades de operação e manutenção. Os 44 mil empregados estão assim distribuídos: nível superior, 29%; médio, 71%; operação, 29%; manutenção, 29%; apoio administrativo, 13%. Os salários iniciais variam de R$1.150 (operador) a R$3.330 (engenheiro). Quem trabalha em áreas de risco, como plataformas, recebe periculosidade (30% sobre o salário).

Petróleo fecha abaixo dos US$67

O preço do petróleo nos EUA fechou ontem em queda, abaixo dos US$67 por barril, após atingir o menor nível em cinco meses, depois de a empresa BP informar que a produção no campo de Prudhoe Bay, no Alasca, pode voltar à capacidade total até o fim de outubro. Além disso, dados do governo mostraram avanço maior que o esperado dos estoques domésticos de derivados e da gasolina. Em Nova York, os contratos com entrega em outubro caíram US$0,18, para US$67,32, depois de atingirem a mínima de US$66,76. Em Londres, o tipo Brent perdeu US$0,40, cotado a US$66,53.

(*) Com agências internacionais