Título: Ciclo virtuoso
Autor: George Vidor
Fonte: O Globo, 17/07/2006, Economia, p. 15

A redução da taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual esta semana pelo Comitê de Política Monetária (Copom) são favas contadas, na avaliação consensual dos analistas de investimento. As dúvidas agora giram sobre o que Banco Central vai fazer daqui para a frente. O mais provável é que o Copom, nas três reuniões seguintes, promova cortes de 0,25 ponto percentual.

Assim, os juros básicos fechariam o ano em 14%. As autoridades monetárias poderiam então comemorar o fato de as taxas nunca terem atingido um patamar tão baixo desde o lançamento do real, e ao mesmo tempo acalmariam aqueles que pregam cautela porque existiriam ameaças inflacionárias no horizonte de 2007.

Com uma taxa nominal de 14%, os juros básicos no Brasil continuariam com o título de recordistas mundiais. As projeções para a inflação deste ano apontam para um índice máximo de 3,8% (isso contando com algum reajuste nos preços domésticos da gasolina e do óleo, que parece inevitável) e, nesse caso, os juros reais permaneceriam acima de 10% ao ano.

No entanto, a redução nominal das taxas de juros já será suficiente para impulsionar a economia, em decorrência de uma melhora extraordinária nas finanças do setor público. Se o déficit governamental encolher como previsto, o combate à inflação será facilitado e os juros vão cair.

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Segundo estudo de Steven Levitt, autor de ¿Freaknomics¿ (best-seller na área de economia), que serviu de base para a última Carta do Ibre, da Fundação Getúlio Vargas, os quatro fatores que efetivamente mais contribuíram para a redução da criminalidade em cidades com mais de 250 mil habitantes nos Estados Unidos, ao longo da década de 90, foram: maior número de prisões, aumento do número de policiais, legalização do aborto e controle da epidemia do crack ¿ droga que vinha sendo consumida em larga escala.

Curiosamente, Levitt constatou que os fatores apontados inicialmente como causas da redução na criminalidade (aplicação da pena de morte, proibição de porte de arma, aceleração do crescimento econômico, etc.) tiveram na verdade pouco efeito.

Se a conclusão de Levitt for válida também para o Brasil, estamos mal. Ainda se discute por aqui se prender os delinqüentes de fato diminui a criminalidade, ou se isso apenas alimenta as ¿escolas¿ do crime, pois nas prisões bandidos aparentemente de pouca periculosidade (?) acabam se envolvendo com grupos organizados.

A eficácia do policiamento ostensivo é sempre posta em dúvida, pela impossibilidade de se ter um guarda em cada esquina (mas já ajudaria muito mantê-los em pontos chaves de vias movimentadas, viadutos, entrada e saída de túneis, estradas). A legalização do aborto merece discussão mais profunda na sociedade, mas os programas públicos de saúde deveriam ter avançado no planejamento familiar, de modo a evitar que os 10% mais pobres da população tenham 4,5 filhos em média por mulher, enquanto entre os 10% mais ricos a média não passa de um filho. Por isso, hoje metade das crianças brasileiras é de famílias pobres ou paupérrimas.

E quanto ao consumo de crack, pode-se dizer que já há uma epidemia, pois alcançou a periferia de cidades do interior do Brasil (ver O GLOBO de 9 de julho).

Por que tratar desse tema em uma coluna de economia? A violência cria um clima hostil para investimentos e afeta o desenvolvimento econômico. Recentemente, a melhor contribuição para o debate sobre a criminalidade partiu de um economista, no caso Luiz Schymura, presidente do Instituto Brasileira de Economia (Ibre) da FGV.

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O laboratório de medição da resistência de materiais, concebido inicialmente para avaliar o desgaste de alguns componentes das usinas nucleares de Angra, nem mesmo se instalou no Rio e já tem uma encomenda, feita pelo Cenpes, o centro de pesquisas da Petrobras, que precisa avaliar as treliças embutidas nos tubos que conduzem óleo dos poços para as plataformas.

Somente com a medição do desgaste dos tubos do gerador de vapor de Angra 1 a Eletronuclear gasta cerca de R$ 11 milhões por ano. Parte dos testes é feita no Brasil por empresas aqui instaladas, mas outros serviços precisam ser contratados no exterior. A demanda não se restringe ao setor nuclear, pois existem atividades como produção e refino de petróleo, indústria aeronáutica, construção naval, etc., que também precisam habitualmente fazer esse tipo de medição para verificar a resistência dos materiais.

Por isso a idéia do laboratório prosperou, mobilizando universidades, a partir da PUC do Rio. O laboratório não terá fins lucrativos e nem substituirá o que as empresas já fazem. Como o projeto terá apoio do fundo setorial de ciência e tecnologia, gerenciado pela Finep, o laboratório pretende unir o útil ao agradável, complementando bolsas para quem esteja se dedicando a teses de doutorado sobre resistência de materiais, que sejam objetos de interesse por parte das empresas.

Para funcionar, o laboratório só precisa de um local. O Exército ofereceu galpões do centro de tecnologia em Guaratiba, porém existe a possibilidade de instalação na Barra da Tijuca. O ideal é o que o laboratório não fique distante das universidades.

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