Título: Ataques provocam reações contrárias
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Fonte: O Globo, 13/07/2006, O Mundo, p. 31

Israelenses temem por soldados capturados e ataques a alvos civis. Libaneses esperam que parentes sejam soltos

BEIRUTE e JERUSALÉM. Preocupação em Israel, regozijo no Líbano. O seqüestro de dois soldados de Israel pelo Hezbollah e a ampliação das atividades militares israelenses com incursões e bombardeios no sul do país vizinho causaram reações adversas entre as duas populações. Enquanto em Israel a sensação predominante era de apreensão com o destino dos dois soldados e com a possibilidade de novos ataques a alvos civis no país, no Sul do Líbano os moradores celebraram a possível chance de uma troca de prisioneiros envolvendo parentes e amigos encarcerados em prisões israelenses.

Após duas semanas de conflito armado em Gaza e da tristeza pela captura do cabo Gilad Shalit, a notícia do ataque e do seqüestro de mais dois militares pegou os israelenses de surpresa. A programação normal das principais redes de rádio e TV do país foi interrompida e substituída por transmissões ao vivo e debates durante todo o dia.

Polícia em alerta nas principais cidades de Israel

Nos ônibus, o rádio sintonizado nas notícias deixava os passageiros preocupados e mesmo na cosmopolita Tel Aviv, conhecida por sua fama de ignorar os problemas políticos do país, o clima era de apreensão. Apesar do sol forte de verão e das férias escolares, os bares e restaurantes registraram um movimento menor do que o normal. A polícia reforçou o estado de alerta nas principais cidades de Israel temendo possíveis infiltrações de terroristas.

¿ A situação é tensa e estamos abalados. É como se estivéssemos de luto ¿ disse o comerciante Yehuda On, de 52 anos, dono de uma loja de comida no mercado Mahane Yehuda em Jerusalém. ¿ O Exército tem de reagir com força.

Apesar dos 74 palestinos mortos desde o fim de junho, quando começaram as incursões na Faixa de Gaza em resposta ao seqüestro do cabo Shalit, há quem acredite que o premier Ehud Olmert não tem sido suficientemente firme na condução da crise.

¿ Olmert não está fazendo nada ¿ criticou Haim Lazau, de 21 anos, estudante de uma escola religiosa. ¿ Ele fala mas não age.

Por outro lado, moradores do Sul do Líbano soltaram fogos de artifício e militantes dispararam tiros para o ar em celebração à captura dos dois soldados israelenses. À espera da retaliação, as lojas fecharam as portas mais cedo e os pais botaram as crianças para dentro de casa.

¿ Nós festejamos. Distribuímos doces e agora estamos jogando gamão ¿ disse o funcionário público Ibrahim Mehdi, de 45 anos, na cidade de Kfar Seer. ¿ Estamos acostumados à atmosfera de guerra.

Confiantes no Hezbollah, responsável por uma campanha de ataques suicidas que muitos vêem como a raiz da retirada israelense do Sul do Líbano em 2000, muitos moradores pareciam não se preocupar com o contra-ataque de Israel. Para eles, o seqüestro pode significar a libertação dos três últimos militantes libaneses de prisões de Israel.

¿ Esta operação vai libertar nossos presos de cárceres israelenses. Estamos muito orgulhosos ¿ disse a cabeleireira Nabiha Baalbaki, que tem um retrato do líder do Hezbollah em seu salão de beleza.

Colaborou Renata Malkes, de Tel Aviv