Título: ALEGANDO QUEDA NAS EXPORTAÇÕES POR CAUSA DO CÂMBIO, VOLKS DEMITIRÁ 6 MIL
Autor: Martha Beck
Fonte: O Globo, 13/07/2006, Economia, p. 24

Montadora vai reduzir produção para exterior em cem mil veículos até 2008

BRASÍLIA e RIO. A Volkswagen apontou ontem a política cambial como um dos principais responsáveis pela realização de um plano de reestruturação que resultará na demissão de até seis mil funcionários. Segundo a diretora de Assuntos Governamentais da montadora, Elizabeth Carvalhaes, diante da forte apreciação do real em relação ao dólar a Volks será obrigada a reduzir sua produção voltada às exportações em cem mil veículos até 2008. Ela lembrou que 43% dos automóveis fabricados pela empresa são destinados ao mercado externo.

¿ A empresa entrou numa situação deficitária por ter optado por uma estratégia de exportação e chegamos num ponto em que a única maneira de resolver a questão é reduzindo essas vendas ¿ afirmou Carvalhaes. ¿ Estamos numa situação absolutamente constrangedora financeiramente. Se a Volkswagen fosse exclusivamente nacional, ela seria concordatária neste momento.

Empresa não discutirá reestruturação com governo

O plano de reestruturação prevê a demissão de quatro mil a seis mil funcionários, sendo que os primeiros cortes devem ocorrer na fábrica da Volks em Taubaté (SP), que emprega hoje 4.500 pessoas. De acordo com o gerente de Relações Trabalhistas da montadora, Nilton Júnior, a empresa está negociando os termos finais das demissões com o sindicato dos trabalhadores, e eles devem ser anunciados ainda esta semana. Nilton adiantou apenas que haverá algum tipo de incentivo financeiro para quem for demitido.

O plano foi tema ontem de audiência pública conjunta das comissões de Desenvolvimento e do Trabalho da Câmara dos Deputados. Durante a sessão, Carvalhaes deixou claro que a empresa não aceitará suspender a reestruturação para discuti-la com sindicatos, o Parlamento e o governo. Ao ser perguntada pelo deputado Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho (PT-SP), se aceitaria esse tipo de negociação, ela afirmou:

¿ Não podemos interromper o processo para esperar medidas do governo. Mas, se houver redução de juros, de carga tributária ou mudanças no câmbio, a empresa vai reagir imediatamente.

A Volkswagen emprega hoje no país 21 mil pessoas e tem cinco fábricas, das quais quatro fazem parte do processo de reestruturação.

A GM do Brasil também informou ontem que, por causa da queda na cotação do dólar, prevê a redução do número de veículos exportados em 50 mil unidades. No ano passado, foram vendidas 208 mil unidades ao exterior (de um total de 573 mil produzidas), o equivalente a um faturamento de US$1,6 bilhão. Apesar disso, segundo a empresa, há expectativa de aumento das vendas no mercado interno, o que provocou um remanejamento de funcionários, com a abertura de 310 postos de trabalho.

Já a Fiat informou que, apesar de a valorização do real prejudicar o desempenho das exportações, a empresa tem registrado bons resultados. Em 2005, a Fiat exportou 100 mil unidades, o equivalente a 20% da produção. A meta para 2006, por causa do câmbio, é reduzir essa participação para até 80 mil. No primeiro semestre, no entanto, as exportações foram positivas em 0,8% frente ao mesmo período de 2005, somando 47 mil unidades.