Título: ADESÃO DA VENEZUELA ABRE POLÊMICA
Autor: Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 07/07/2006, Economia, p. 24

Chanceler defende mas CNI vê dificuldade em novos acordos para o Mercosul

BRASÍLIA. Dois dias depois de o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, assinar em Caracas o protocolo de adesão de seu país ao Mercosul na condição de membro pleno, governo e empresários brasileiros divergiam ontem sobre o novo sócio. Enquanto o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmava que, com os venezuelanos, pela primeira vez o bloco terá ¿a cara da América do Sul¿, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) reagia com preocupação, alertando para o risco de Chávez aumentar as dificuldades nas negociações com Estados Unidos e União Européia.

Empresário alerta para divergências internas

De acordo com o presidente do Conselho Temático de Integração Internacional da CNI, Osvaldo Douat, além das negociações com terceiros mercados, a adesão do novo sócio poderia reforçar as divergências internas do bloco. Paraguai e Uruguai estão insatisfeitos com o Mercosul e já deram sinais de que não recusariam acordos de livre comércio feitos separadamente, ou seja, fora do bloco comercial do Cone Sul, com os americanos.

¿ O Mercosul vive um momento delicado. Há centenas de questões, envolvendo tarifas, aduanas e outros temas importantes, que precisam ser resolvidas ¿ disse Douat.

O chanceler Celso Amorim, por sua vez, lembrou que, com o ingresso da Venezuela, o Mercosul ganha uma nova dimensão, continental, deixando de ser uma realidade apenas do Cone Sul. Indagado se essa nova composição do bloco não traria problemas nas negociações internacionais, inclusive em uma eventual retomada das discussões para a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) ¿ contra a qual o presidente da Venezuela sempre se posicionou ¿ Celso Amorim respondeu:

¿ Nossa prioridade, neste momento, é a Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC).

CNI teme que haja uma influência venezuelana

Com relação à insatisfação dos sócios menores, o ministro disse que paraguaios e uruguaios não deixarão o Mercosul.

¿ É muito difícil captar o olhar de uma negociação no mundo, ainda mais quando se atua individualmente. A não ser que seja para assinar um acordo pré-fabricado ¿ afirmou o chanceler.

Um estudo divulgado ontem pela CNI alerta que o setor produtivo brasileiro se preocupa, especialmente, com a influência dos venezuelanos nas negociações comerciais do Mercosul com terceiros países.

¿A Venezuela poderá influenciar decisões como, por exemplo, a de construir agendas de negociação do bloco com os Estados Unidos e com a União Européia¿, destaca o documento elaborado pela confederação.