Título: O ABISMO FICOU MAIS AMPLO
Autor: OSIAS WURMAN
Fonte: O Globo, 18/05/2006, Opinião, p. 7

Opovo de Israel comemora os 58 anos de sua independência, após quase dois mil anos de exílio. Na verdade, após o ano 70 E.C., quando os romanos destruíram o Grande Templo de Jerusalém , incendiando a cidade e levando cerca de 600 mil judeus cativos para Roma, nunca faltou a presença de judeus, por menor que fosse, na Terra Santa.

Muito sangue irrigou, nestes dois milênios, o que deveria ser a ¿terra do leite e do mel¿. Palestinos e israelenses ainda procuram conviver pacificamente, agora mais difícil do que nunca.

A vitória eleitoral do movimento Hamas, que tem como objetivo político de sua criação a destruição do Estado de Israel, alargou o abismo que já havia entre estes dois povos.

Não foi difícil para os fundamentalistas alcançar o poder em menos de duas décadas, pois seu trabalho foi facilitado pelos graves erros cometidos por Yasser Arafat ¿ o ex-presidente da ANP ¿ Autoridade Nacional Palestina ¿ e seus partidários do movimento Al-Fatah, originalmente seu braço armado.

Atualmente, a ANP está rachada entre a presidência de Mahmoud Abbas, seguidor de Arafat, e o primeiro-ministro Ismail Haniyeh, membro do Hamas. O conflito agora é dos dois lados da fronteira palestina.

O recém-empossado primeiro-ministro israelense Ehud Olmert, sucessor e discípulo de Ariel Sharon, acredita numa derrocada do beligerante governo do Hamas em favor de uma prevalência do moderado Abbas. Olmert foi o braço direito de Sharon e um dos principais artífices da retirada unilateral israelense da Faixa de Gaza.

Sua filosofia existencial é semelhante a de seu mestre e contempla o fato histórico da omissão do mundo, dito civilizado, durante o massacre judaico no Holocausto: ¿Nós não esqueceremos e nós não perdoaremos!!!¿

Olmert é defensor ferrenho da existência de um Estado judeu democrático, com fronteiras seguras e defensáveis. Para tanto, está disposto a devolver a totalidade da Cisjordânia, retendo cerca de 8% do território total, correspondente à cidade de Ariel e cercanias de Jerusalém, onde habitam cerca de 30 mil colonos israelenses.

Assim como Sharon, aguarda, de forma inflexível, um gesto de parceria de seus vizinhos. A diferença de postura é que seu antecessor, em estado de coma profunda há mais de quatro meses, devolveu Gaza imaginando ter dado um passo de aproximação com os palestinos, mas na realidade o resultado foi decepcionante, com as cidades limítrofes à nova fronteira sendo atacadas por foguetes lançados dos territórios devolvidos. Olmert está ciente de que estes gestos não são correspondidos pelos adversários.

Enquanto o novo governo palestino, liderado pelo Hamas, não der provas de vontade de conviver pacificamente eliminando o objetivo final de destruir Israel , o governo recém-empossado de Olmert tomará as iniciativas estratégicas, independente da anuência ou participação palestina.

Na verdade, mesmo em coma profundo, continua a prevalecer na região a vontade e o espírito de Sharon.

OSIAS WURMAN é presidente da Federação Israelita do RJ