Título: CONSUMO DAS FAMÍLIAS PODERÁ TER MAIOR ALTA DESDE 95
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 01/05/2006, Economia, p. 15

Em ano eleitoral, analistas prevêem aumento de 5% no gasto dos consumidores e já elevam projeção para PIB

Um desempenho acima do esperado na produção industrial, nas vendas do comércio e na renda dos trabalhadores no primeiro trimestre do ano já está levando alguns economistas a aumentarem suas projeções para o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto das riquezas do país). As estimativas, agora, são de que o PIB poderá crescer até 4% este ano, devido principalmente à expansão do mercado interno. O consumo das famílias deverá ter expansão de cerca de 5%, no melhor desempenho desde 1995, quando houve uma explosão de compras graças ao sucesso do Plano Real.

E com a queda do dólar e os problemas na agropecuária, a inflação está perdendo fôlego e poderá ficar abaixo da meta de 4,5% do governo. Será a menor taxa desde 1998. O alívio nos preços e o maior dinamismo do mercado doméstico proporcionará aos consumidores uma percepção de bem-estar econômico como há muito não era vivenciado, dizem os analistas.

¿ É um cenário que vem bem a calhar num ano eleitoral ¿ afirma Fernando Montero, economista-chefe da corretora Convenção. ¿ E o auge da recuperação será entre o segundo e o terceiro trimestres, num bom timing político.

Momento favorável pode não se repetir no ano que vem

Os analistas lembram, porém, que o bom momento da economia pode não se repetir em 2007. O dólar baixo será um problema se prejudicar as contas externas do país. E as estimativas são de uma inflação de 5,5% ¿ um ponto percentual acima da meta do governo. Mas o aumento dos gastos públicos é a maior preocupação.

¿ É que houve uma expansão muito forte do gasto corrente não-financeiro (ou seja, excluído o pagamento dos juros) ¿ avalia Caio Prates, do Grupo de Conjuntura da UFRJ.

O grupo aumentou sua projeção para o PIB de 2006 de 3,8% para 4%. De qualquer maneira, o Brasil crescerá abaixo da média mundial pelo décimo primeiro ano seguido. Mas Prates lembra que, ao contrário do último ciclo de dinamismo econômico, quando a expansão veio do avanço das exportações, desta vez o crescimento será calcado no mercado interno. O economista da UFRJ destaca que os juros básicos devem cair para 14% no fim do ano, o menor nível do Real.

Para o trabalhador, crescimento baseado no mercado interno significa mais oferta de vagas e salários melhores. A publicitária Keila Marconi mudou de emprego duas vezes este ano. Atraída pela proposta de uma firma de telefonia, deixou a agência de publicidade onde trabalhava há cinco anos. Não se adaptou e pediu demissão. Keila só não imaginava que conseguiria se recolocar no mercado tão rapidamente:

¿ Eu fiquei menos de uma semana em casa. A agência me chamou de volta.

Com esse vaivém, Keila ganha hoje um salário 15% maior do que recebia antes na agência.

O economista Eduardo Velho, sócio da Mandarim Gestão de Ativos, acredita que o vigor do mercado interno fará o PIB crescer perto de 4% este ano.

¿ O consumo cresce desde o segundo trimestre de 2005.

Velho explica que os juros altos seguraram a inflação, levando a um ganho de renda dos consumidores e, por tabela, a um aumento de seus gastos. O consumo também cresceu graças à maior oferta de crédito.

O economista Sérgio Vale, da MB Associados, revisou sua projeção de 3,3% para 3,5%. Ele estima que o rendimento médio dos trabalhadores crescerá 2,7%. Só o reajuste do salário-mínimo responderá por 60% desse ganho. Ele ressalta que, em 1994, o mínimo era suficiente para comprar 70% dos produtos de uma cesta básica e, hoje, paga duas cestas.