Título: BOA HORA PARA UM BOM DEBATE
Autor: PAULO SAFADY SIMÃO
Fonte: O Globo, 25/04/2006, Opinião, p. 7

Na medida em que o tempo passa, e ficamos mais distantes dos acontecimentos políticos que abalaram o país em 2005, mais nos convencemos da necessidade de iniciarmos o debate sobre as reformas estruturais. Os escândalos denunciados às CPIs do Congresso tiveram suas conseqüências: foram amplamente comentados, apurados e explorados pela mídia, e provocaram demissões, renúncias, cassações, fraudes, frustrações, indignações. Ao final, serviram para comprovar que o nosso sistema político e administrativo é ineficiente e corrupto, porque acolhe instrumentos ¿legais¿ que favorecem desmandos e irregularidades.

Precisamos, com urgência, de uma reforma partidária e eleitoral profunda. No modelo atual, não importa quem seja o governante de plantão, os resultados serão sempre os mesmos. Os esquemas políticos existem, e continuarão existindo, em nome da chamada ¿governabilidade¿. Um novo presidente da República é eleito, pelo voto direto e secreto da maioria absoluta dos brasileiros, e no dia seguinte começam os entendimentos com os líderes partidários para se compor a maioria no Congresso. Assim se conquista a governabilidade.

A facilidade com que o país, nos últimos dez meses, vem absorvendo a avalanche de denúncias e de crimes praticados contra os cofres públicos, como se nada de grave tivesse ocorrido, deixa claro que a estrutura em vigor ¿ extremamente eficaz ¿ só perderá força quando as leis do país forem alteradas.

Nós, empresários da indústria da construção e do mercado imobiliário, acreditamos que só haverá uma mudança qualitativa na economia e na política se a sociedade civil organizada se conscientizar da relevância deste tema e exercer o seu direito legítimo de pressão sobre as autoridades. E se o futuro presidente da República, sensibilizado, priorizar a aprovação das reformas estruturais que consideramos indispensáveis: reformas político-eleitoral, tributária e da Previdência. Elas criarão as condições para que a economia possa crescer, a partir de 2007, em níveis mais elevados e compatíveis com nossas demandas sociais. Da mesma forma, elas serão importantes para evitar ou minimizar os efeitos das crises políticas na vida do país.

Lamentavelmente, constatamos que o tema das reformas encontra-se fora das agendas do governo, do Congresso Nacional e da mídia. A poucos meses das convenções partidárias que irão escolher os candidatos à Presidência da República, nas eleições de outubro, não se discute a necessidade das reformas e nem a melhor maneira de realizá-las. É uma pena, porque o Brasil vai perdendo o ¿bonde da história¿, distanciando-se cada vez mais de países emergentes com crescimento econômico mais acelerado, como a China, a Coréia e a Índia, e até alguns países da América Latina.

A nosso ver, este é o momento das reformas. O ideal seria discuti-las agora, durante a campanha eleitoral que se inicia, e aprová-las já no primeiro semestre de 2007, quando o novo governo ainda estará ungido pela força do voto popular.

PAULO SAFADY SIMÃO é presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).

N. da R.: Luiz Garcia volta a escrever neste espaço em maio.