Título: FMI DÁ SINAL VERDE A GASTO PÚBLICO DO BRASIL DEVIDO À ALTA CARGA TRIBUTÁRIA
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 22/04/2006, Economia, p. 19

Mantega diz que governo continuará aumentando despesas na área social

WASHINGTON. Apesar de manifestar uma grande preocupação com o rápido e volumoso crescimento dos gastos públicos na América Latina nos últimos tempos, alertando que isso poderá ter conseqüências ruins para uma região que finalmente conseguiu restabelecer seu crescimento econômico, o Fundo Monetário Internacional (FMI) deixou claro ontem que o caso do Brasil é uma exceção.

Pela avaliação do Fundo, o país hoje tem cacife suficiente para bancar os gastos que o governo vem fazendo. Na reunião semestral conjunta do Fundo e do Banco Mundial (Bird), o diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI, Anoop Singh, disse que o Brasil tem um espaço maior de manobra porque a sua carga tributária é mais alta do que a dos demais países da região.

¿ E o governo está comprometido em não sacrificar a disciplina fiscal e macroeconômica. Obviamente há um histórico muito confiável do Brasil em relação ao superávit fiscal. Portanto, podemos estar bastante confiantes de que os gastos crescentes do Brasil são compatíveis com o crescimento da arrecadação. O governo está totalmente comprometido em ajustar a taxa de crescimento, se necessário, para manter o objetivo do superávit fiscal primário ¿ completou Anoop Singh.

Ao seu lado, o vice-diretor daquela área, Charles Collyns, reforçou o sinal verde dizendo que as autoridades brasileiras estão dando passos para controlar o crescimento nos gastos, em particular na seguridade social.

¿ O governo, de fato, tem sido bastante rígido em termos de controle dos salários do setor público. Há áreas importantes em que ele está aumentando os gastos bem rapidamente, em especial nos programas sociais, como o Bolsa Família. E nós apoiamos totalmente esses aumentos, que têm sido prestativos na ajuda para reduzir a pobreza no Brasil ¿ disse ele.

Collins acrescentou que o principal, em termos de gastos, é garantir que sejam bem aplicados ¿e que se tenha controle sobre as áreas menos produtivas em termos de despesas¿.

Para ministro da Fazenda, gasto social é investimento

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, reafirmou que o governo continuará aumentando gastos na área social:

¿ Esse tipo de gasto nós não vamos reduzir pois, na verdade, isso é um investimento. A preocupação do governo Lula é reduzir os gastos de custeio. Cortar gastos é uma preocupação permanente.

Mantega disse que o percentual de 10,2% do PIB com gastos de custeio, ¿deixando de lado a previdência, que tem uma dinâmica que foge ao controle do governo¿, é menor do que no governo anterior, quando o índice foi de 10,8%.

Singh, do FMI, divulgou estudo mostrando que nas últimas duas décadas a América Latina jamais esteve em situação tão favorável quanto a atual. O ano de 2005 foi o terceiro consecutivo com superávits comerciais e de conta corrente, a dívida pública foi reduzida, as reservas aumentadas e a demanda doméstica se tornou ¿um crescente e importante fator para o crescimento¿.

Em relação ao Brasil, o documento registrou significativo progresso na redução da pobreza e na desigualdade de renda. Entre 2002 e 2004 o número de pobres foi reduzido para o equivalente a 25% da população. ¿Trata-se do índice mais baixo desde que esse tipo de dado começou a ser registrado em 1992¿.