Título: ESTILISTA QUE DOOU ROUPAS A LU ALCKMIN DEPÕE HOJE
Autor: Tatiana Farah e Anselmo Carvalho Pinto
Fonte: O Globo, 18/04/2006, O País, p. 8

Em Cuiabá, pré-candidato tucano ataca Lula e não fala sobre verbas publicitárias da Nossa Caixa

SÃO PAULO e CUIABÁ . O estilista Rogério Figueiredo, que afirma ter doado 400 vestidos à ex-primeira-dama de São Paulo Maria Lúcia Alckmin, será ouvido hoje pelo Ministério Público. Mulher de Geraldo Alckmin, pré-candidato à Presidência pelo PSDB, dona Lu, como é conhecida, reconheceu ter recebido 40 peças de roupa do estilista. Sua assessoria depois disse que foram 49 e que os presentes foram repassados a entidades sociais.

Procurado ontem, Rogério Figueiredo disse que ¿tudo será esclarecido¿ em seu depoimento ao Ministério Público hoje. Em entrevistas recentes, o estilista afirmou ter vestido a então primeira-dama sem cobrar por qualquer uma das supostas 400 peças de roupa, a maioria vestidos. Ele se disse ressentido de Lu Alckmin ter passado a fazer compras na sofisticada loja Daslu, onde sua filha trabalhava.

Vestidos doados somariam mais de R$2 milhões

O estilista também tem uma loja luxuosa, de 800 metros quadrados, nos Jardins, bairro nobre de São Paulo. Os preços das peças prêt-à-porter são altos: um conjunto simples de inverno, de saia e casaco, custa cerca de R$2.300. Estima-se que as doações a dona Lu, se confirmadas, ultrapassem R$2 milhões. Segundo ele, as doações à ex-primeira-dama foram feitas por quase cinco anos, de 2001 a 2005.

Em Cuiabá, Alckmin voltou a criticar ontem a política econômica do governo Lula. Desta vez, o foco foi o agronegócio. Alckmin aproveitou sua participação num seminário sobre o setor para destacar que Mato Grosso ¿ maior produtor brasileiro de soja e algodão ¿ vive uma grande crise por causa das perdas decorrentes do câmbio desfavorável, que prejudicou as exportações.

¿ O agronegócio vive a mais grave crise das últimas décadas. Fruto de inúmeros fatores e da enorme lentidão do governo para tomar medidas para resolvê-la. Se não bastasse, o próprio governo sustenta o câmbio num patamar fora do ponto de equilíbrio ¿ disse Alckmin.

Durante o evento, além das reclamações sobre a política cambial do governo petista, Alckmin também ouviu queixas dos produtores rurais em relação à BR-163, que não está totalmente asfaltada, e à Ferronorte, estrada de ferro que ligaria Mato Grosso à Região Sul e que ainda aguarda a conclusão das obras.

¿ Temos que recuperar a capacidade de investimento do governo. A nossa carga tributária está se aproximando de 39% do PIB (Produto Interno Bruto) e o governo federal investe 0,4% do PIB ¿ afirmou.

Tucano evita falar das denúncias da Nossa Caixa

Alckmin, no entanto, não quis falar sobre as denúncias contra seu governo. Perguntado sobre o uso político de verbas publicitárias da Nossa Caixa, o banco estatal paulista, ele afirmou que não havia fato novo sobre o caso.

¿ Isso já foi explicado. O que houve foi um erro meramente formal. A Nossa Caixa já abriu uma sindicância, demitiu o gerente responsável (Jaime de Castro) e encaminhou o caso para o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo.