Título: VARIG PODE PARAR, MAS AVIÕES NÃO
Autor: Sergio Fadul
Fonte: O Globo, 14/04/2006, Economia, p. 21

Governo prevê repasse de estrutura a rivais. Empresa recebe proposta de compra

O plano de emergência que o governo prepara para o caso de a Varig parar de voar inclui o uso dos aviões e da tripulação da própria companhia. A ação, coordenada pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para evitar que quem comprou bilhetes da Varig deixe de ser atendido, prevê a distribuição de licenças precárias (por um período) para que outras companhias assumam provisoriamente as rotas operadas pela empresa. As passagens também serão endossadas pelas concorrentes. Ontem à noite a Varig informou que recebeu uma proposta de compra apresentada pela VarigLog, de US$400 milhões.

A diretoria da empresa vai recomendar ao Conselho de Administração que aceite a proposta da ex-subsidiária da Varig ¿ adquirida no ano passado pela Volo Brasil, formada por investidores brasileiros e pelo fundo americano Matlin Patterson. A VarigLog já havia feito uma proposta, em 9 de abril, de US$350 milhões, recusada pelos credores. A nova proposta será enviada à 8ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio e ao Conselho na segunda-feira. Somente depois disso, haverá uma reunião ou assembléia com os credores.

Caso seja colocado em prática o plano de emergência do governo, o uso dos aviões e da tripulação da Varig pelas concorrentes será necessário porque se a empresa falir as demais companhias não teriam condições de absorver os passageiros a curto prazo. Além disso, até ser feita a redistribuição definitiva das linhas da Varig, as companhias não terão como redimensionar suas frotas.

Os técnicos que trabalham no plano garantem que nenhum destino ficará descoberto. A idéia é que as rotas da Varig sejam divididas segundo a participação das empresas no mercado. A TAM receberia o maior número de linhas, seguida por Gol, BRA e assim sucessivamente. Segundo a Anac, há 29 empresas para absorver o mercado.

A TAM receberia a maior parte das linhas internacionais, pois dispõe de infra-estrutura para tal. Uma das preocupações é manter em uma empresa brasileira as rotas internacionais. Mas, para evitar danos, a Anac também deve conceder autorização temporária às companhias estrangeiras. Hoje, 32% dos vôos internacionais que partem do Brasil são operados pela Varig. Outros 8% estão com a TAM e 1%, com a Gol. Os 59% restantes são operados por empresas estrangeiras. No mercado doméstico, a participação da Varig fechou março em 18,7%.

Os técnicos afirmam que não há rotas exclusivas da Varig. O objetivo é encontrar uma forma de garantir as freqüências. Esse é mais um motivo para que se recorra ao uso da tripulação e dos aviões da Varig. A iniciativa tem respaldo no setor de turismo. Ontem, sete entidades, como Associação Brasileira das Agências de Viagem (Abav), Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa) e Federação Nacional do Turismo (Fenactur), divulgaram uma carta, cobrando uma ação do governo:

¿Poderiam, como já foi feito (...) com a empresa Cruzeiro do Sul, preparar outra ou outras empresas aéreas para, de pronto, assumir aviões, tripulações e usuários e, com o tempo, administrar a encampação¿, diz o texto, que alerta para o fato de a Varig já ter vendido 1,2 milhão de trechos, dos quais 200 mil a clientes no exterior. Só para a Copa do Mundo, seriam 30 mil passagens.

Ontem, o presidente da Petrobras Distribuidora (BR), Rodolfo Landim, disse que a companhia não tem condições de dar prazo de 90 dias para a Varig pagar o combustível:

¿ Não posso conceder um financiamento desse porte para uma empresa que não me oferece garantia. A BR tem acionistas e posso ser acusado de gestão temerária.

O Sindicato Nacional dos Aeronautas vai pedir à Secretaria de Previdência Complementar, segunda-feira, que reconsidere a liquidação dos planos no Aerus. A Varig afirmou que tomará medidas jurídicas.

COLABORARAM Geralda Doca, Ramona Ordoñez e Erica Ribeiro