Título: Exército recupera o que é seu
Autor: Antonio Werneck e Natanael Damasceno
Fonte: O Globo, 15/03/2006, Rio, p. 16

Onze armas roubadas de quartel são encontradas em mata de São Conrado

Um informante da Companhia de Inteligência do Comando Militar do Leste (CML) levou ontem o Exército às 11 armas roubadas há 13 dias do Estabelecimento Central de Transportes (ECT), em São Cristóvão. Os dez fuzis calibre 7,62 e a pistola 9mm foram deixadas numa mata próximo a uma trilha perto do prédio abandonado de um hotel, conhecido como Esqueleto, entre a Favela da Rocinha e a Estrada das Canoas, em São Conrado. Um grupo de dez militares encontrou o armamento perto de sacos pretos sujos de terra, evidenciando que o material foi enterrado após o roubo. O general Hélio Chagas de Macedo Junior, chefe do Estado-Maior do CML, e o secretário de Segurança, Marcelo Itagiba, garantiram ontem que as operações vão continuar, agora de forma pontual, até que os responsáveis pelo roubo sejam presos.

Os militares disseram que a informação chegou aos membros da Inteligência do Exército por volta das 18h. Meia hora depois um grupo de agentes chegou ao local. As armas estavam em local visível, algumas já apresentavam sinais de ferrugem e os fuzis foram desmontados, levando o Exército a aumentar suas suspeitas de que alguém com instrução militar e bom manuseio de armas tenha participado da ação. As armas estavam montadas quando foram roubadas do quartel de São Cristóvão. Cerca de 50 balas calibre 7,62, que estavam nos pentes dos fuzis quando eles foram levados, desapareceram. Para recolher o armamento os militares usaram luvas para não apagar possíveis digitais deixadas pelos criminosos. O material começará a ser periciado hoje pelo Exército.

¿ A sensação, não só do Exército mas também da Secretaria de Segurança, é de dever cumprido. Hoje chegamos ao ótimo. Agora nós teremos que chegar aos responsáveis. Se foi alguém conivente ou omisso, ou meliante externo à unidade, chegaremos aos culpados ¿ disse o general Macedo.

Armas estariam com bandidos do Borel

O Exército investiga a informação de que as armas estavam escondidas no Morro do Borel, na Tijuca, e que foram levadas pelos traficantes pela mata (há uma trilha ligando os dois morros) para perto da Rocinha, numa estratégia de culpar a facção rival que domina os pontos de venda em São Conrado. Durante o fim de semana, o Exército fez buscas próximas ao Borel. Durante mais de cinco horas militares vasculharam um supermercado desativado na Rua Conde de Bonfim. Nada foi encontrado. O secretário Marcelo Itagiba, que chegou ao CML por volta das 20h, defendeu a estratégia adotada pela força-tarefa:

¿ A estratégia e a tática foram adequadas porque nós chegamos ao armamento. Demos o primeiro passo; agora vamos para a fase dois que é a identificação dos culpados. A grande lição que se tira é a do trabalho integrado, da necessidade de todos fazerem sua parte para que possamos reduzir no país o número de armas nas mãos dos bandidos e, por conseguinte, a violência ¿ assegurou Itagiba, lembrando que ainda não existem mandados de prisão expedidos.

Em Brasília, onde esteve reunido com o comando do Exército, o general Domingos Curado, comandante do CML, reagiu com irritação a especulações de que teria havido acerto com uma determinada facção criminosa para a entrega das armas roubadas do quartel:

¿ O Exército não faz acordo com criminoso. Age dentro da lei. A pergunta é absurda ¿ reagiu.

Segundo o general Macedo, depois da recuperação das armas, as investigações continuarão para chegar aos culpados. Pelo menos dois ex-militares, um deles um cabo que serviu na unidade, são considerados suspeitos do roubo.