Título: Barafunda eleitoral
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 19/02/2006, O PAÍS, p. 2

Em outubro o eleitor será novamente chamado a votar simultaneamente para cinco cargos: presidente, governador, senador, deputado federal e estadual. Ao longo da campanha será perseguido por uma algaravia de mensagens. Votará guiado por critérios que só Deus conhece, misturando razões locais com simpatias federais. Disso têm resultado governos sem maioria parlamentar, levados a negociar a governabilidade no balcão. Ou no mensalão.

As eleições para presidente, senador e deputado federal remetem ao plano nacional. Deveriam ser permeadas pelo debate das grandes diretrizes para o país, possibilitando maior vinculação entre o voto para presidente e a escolha de congressistas. Com isso, os presidentes eleitos teriam mais chance de eleger maiorias. Com o eleitor prestando mais atenção à escolha dos congressistas ¿ o que não acontece nas campanhas de hoje, puxadas pelos candidatos a cargos majoritários ¿ a qualidade da representação política talvez melhorasse. As eleições para governador e deputados estaduais remetem à vida nos estados, seus problemas e soluções. O vínculo entre uma escolha e outra também favorece a governabilidade local. A coincidência atual mistura, no mesmo pleito, lógicas diferentes. O resultado ¿ principalmente quando não se exige a verticalização das alianças ¿ é o predomínio das eleições de governador sobre as demais. Candidatos a presidente, desde que houve o casamento dos pleitos em 1994, gastam boa parte de suas energias administrando palanques. É o candidato a governador que comanda o baile. Junta o povo para os comícios, distribui material de campanha, contrata cabos eleitorais e organiza a boca de urna. Candidatos a deputado são mariscos na disputa. Para o deputado Francisco Dornelles, a reforma eleitoral necessária tem o nome de descoincidência das eleições. Que as estaduais aconteçam em um ano, seguindo sua própria lógica, e as nacionais em outro. Há emendas tramitando neste sentido mas fácil não é, para não dizer que é impossível. Alguns mandatos teriam que ser encurtados, e quem está no cargo não aceita. Ou prorrogados, o que é inaceitável para os da oposição. Este ano teremos a mesma barafunda. A má qualidade da representação parlamentar é uma doença progressiva. Dificilmente isso mudará se não for jogada luz mais forte sobre a eleição parlamentar. Ou o voto em lista, ou descoincidência dos mandatos. Há uma guerra no PFL pela indicação do candidato a vice na chapa tucana. ACM quer um nordestino, como Agripino Maia. Jorge Bornhausen quer ele mesmo.