Título: Alckmin: jeito de quem vai criar caso
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 20/02/2006, O PAÍS, p. 2

As notícias de que a cúpula tucana teria se fixado no nome do prefeito José Serra em reunião na sexta-feira no Rio levantaram poeira entre os aliados do governador Geraldo Alckmin. Segundo um deles, o governador tem dito que não ¿não vai entregar assim a rapadura¿.

Pelo relato, está com jeito de quem vai criar caso e reagir à suposta rejeição de seu nome. Na semana que vem ele será chamado a um jantar com a cúpula partidária ¿ o ex-presidente Fernando Henrique, o governador Aécio Neves, o presidente do PSDB, Tasso Jereissati e o secretário-geral Eduardo Paes. Os mesmos que se reuniram no Rio na sexta-feira e chegaram à conclusão, com base nas análises de pesquisas apresentadas pelo cientista político Antonio Lavareda, de que o candidato mais competitivo é mesmo Serra. Queriam primeiro chegar a um consenso entre eles para num segundo momento administrarem a questão interna ¿ o convencimento do governador, de modo a poderem anunciar a candidatura logo depois do carnaval. Por este calendário, esta semana será crucial para chegarem ou não à solução por consenso. Mas com Alckmin dando sinais de que não aceitará facilmente a decisão da cúpula, talvez tenham que ganhar mais tempo. Segundo um dos escudeiros do governador, ele está dizendo que Serra não pode ser candidato às custas de sua desistência. Estaria querendo ser ungido como se fosse candidato único, embora não seja. Numa eventual disputa, acredita o governador que teria maioria na convenção ou mesmo em prévias. O problema é que isso racharia irremediavelmente o partido e Serra já sabe o que isso significou para sua candidatura em 2002: corpo mole de uns, traição de outros. Colocar o guizo no gato é a expressão preferida dos políticos para designarem o ato de vetar uma candidatura. Os peemedebistas já faziam uso dela em 1989, quando tentaram impedir que Ulysses Guimarães fosse o candidato a presidente. Estava desgastado pelo acúmulo de poder durante a Constituinte e o governo Sarney. Os governadores do PMDB foram em romaria à sua residência tentar lhe dizer que tinha que ser outro. Um deles, naturalmente. Quércia, Arraes, Simon, Requião, todos eram presidenciáveis. Ulysses toureou-os durante duas horas, ora fingindo-se de desentendido, ora enfrentando-os. A seu lado, dona Mora fulminava os algozes do marido recontando as pérolas do colar. Ulysses foi o candidato, mas acabou abandonado por boa parte dos governadores e caciques do partido.