Título: À CAÇA DE INVESTIMENTOS
Autor:
Fonte: O Globo, 30/01/2005, Economia, p. 33

Embalado pelo crescimento da economia brasileira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mobilizou em Davos os principais ministros do governo para viabilizar uma estratégia agressiva de atração de investimentos para o país. Na passagem pelo Fórum Econômico Mundial, Lula pôde conferir sua projeção como líder na campanha de combate à pobreza. Mas usou a maior parte da agenda discutindo possibilidades de negócios.

¿ O Brasil recuperou a auto-estima. As eleições interessam aos adversários. Não vamos deixar escapar este momento. Não vamos ser irresponsáveis. O nosso interesse é que o Brasil cresça em 2005 ¿ declarou Lula ontem.

Alemanha aposta em presença no Brasil

Lula usou todos os seus encontros no Fórum para ressaltar que o Brasil hoje é um lugar atraente para investimentos. E, paralelamente, organizou um grande evento só com investidores. O governo tem como meta atrair US$20 bilhões em investimentos diretos estrangeiros este ano. Em 2004, foram US$18 bilhões. Todos os ministros e o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, foram mobilizados para mostrar os números e fazer o mesmo discurso: o de que o Brasil deu certo. Meirelles, num almoço que teve como tema a economia brasileira, apresentou tantos números que, em dado momento, disse à platéia:

¿ Eu não queria enfadá-los com tantos números, mas deixe eu só mencionar mais este...

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, participou do encontro de Lula com o chanceler alemão, Gerhard Schröder, e saiu entusiasmado:

¿ Conversamos muito sobre o ambiente econômico no Brasil, as possibilidades nos próximos anos, os resultados em vários setores onde a Alemanha participa fortemente, como o automobilístico, que no ano passado teve recorde de produção. Schröder acredita que os investimentos alemães devem ser fortalecidos.

Para o governo brasileiro, a Alemanha, sendo a maior economia da Europa, tem potencial para ampliar sua presença no Brasil, especialmente agora que o país retomou o crescimento. Até 1995, a Alemanha era o segundo maior investidor no Brasil, depois dos Estados Unidos. Mas, nos últimos anos, recuou para o sexto lugar.

Outro país que está na mira do governo brasileiro é a Espanha. A Agência de Promoção de Exportações (Apex Brasil), que acaba de inaugurar uma unidade só para atrair investimentos, fechou um acordo no fim do ano passado com o Instituto de Comércio Exterior da Espanha (Icex). Como resultado, em fevereiro as duas agências vão promover um seminário em São Paulo, que tem presença confirmada de 80 empresários espanhóis.

¿ Existe uma grande possibilidade de negócios entre médias empresas. A idéia é aproveitar o interesse dos espanhóis no Brasil e viabilizar joint-ventures com companhias brasileiras de médio porte. Eles (espanhóis) já demonstraram interesse no setor de bebidas, alimentos, equipamentos hospitalares e software ¿ afirmou o presidente da Apex Brasil, Juan Quirós.

A agência tem 20 consultorias atuando no exterior para identificar novos mercados para produtos brasileiros. A diferença é que, a partir de agora, toda essa estrutura vai ser mobilizada também para atrair investimentos.

País reúne cem executivos no fórum

O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, trouxe para Davos a lista de projetos que podem ser financiados com as Parcerias Público-Privadas (PPPs). Esta semana, será publicado o decreto regulamentando o órgão gestor das PPPs e, a partir daí, o governo poderá avançar nos projetos. Os primeiros contratos devem ser assinados em maio ou junho.

¿ É uma oportunidade única e nós vamos ser bem-sucedidos ¿ disse Dirceu, referindo-se à possibilidade de atrair investidores em Davos para as parcerias.

Os organizadores do evento destinado aos investidores convidaram cerca de cem altos executivos de grandes empresas para ouvir as propostas do governo brasileiro.

¿ O Brasil está se modificando no cenário internacional. Temos projetos de infra-estrutura em várias áreas e a possibilidade de parcerias com médias empresas para oferecer aos investidores. Davos é muito interessante porque permite reunir presidentes de várias empresas ¿ disse Ingo Plugert, coordenador da unidade de investimentos da Apex Brasil.