Título: CONVERSA É ARMA CONTRA A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Autor:
Fonte: O Globo, 23/01/2005, O País, p. 17

O velho ditado machista, quem diria, estava certo, ao menos parcialmente: a maioria dos homens violentos não sabe por que bate em suas mulheres ou em seus filhos. Em situações de conflito, ou quando estão bêbados, usam a prerrogativa que a natureza e a educação patriarcal lhes deu: a força. Até pouco tempo, feministas e grupos de apoio às vítimas acreditavam que a única forma de resolver o problema era a separação. Mas um trabalho recente, que tem como foco o agressor, está levando os homens a refletir sobre suas atitudes em grupos que se reúnem periodicamente para discutir a violência e o resultado tem sido melhor do que o esperado.

¿A gente aprende a conviver. Não brigo mais¿

No ABC paulista, a iniciativa começou em Diadema há pouco mais de um ano e já atinge as outras seis cidades da região.

¿ A assistência às mulheres vítimas de violência começou em 1991, com a criação da Casa Beth Lobo. Depois a prefeitura integrou-se ao trabalho e, após 13 anos, decidimos trabalhar também com os homens ¿ diz Analdeci Moreira dos Santos, da Frente Regional de Combate à Violência Contra a Mulher. ¿ Em Diadema, 32 homens já passaram pelos grupos.

Eles são levados aos grupos reflexivos, como são chamados esses fóruns de debate sobre masculinidade e cidadania, por indicação da Justiça ou de associações comunitárias, que identificam agressores ou potenciais agressores e alertam as organizações não-governamentais que atuam junto com as prefeituras, já que nem sempre a mulher agredida procura a polícia.

Francolino José dos Santos, pedreiro de 43 anos, participa atualmente de um grupo em Santo André. Ele foi encaminhado pela Justiça. Após 12 anos de casamento e quatro filhos, as brigas tornaram a convivência impossível. Mas, mesmo com a separação, ele foi encaminhado às discussões para evitar novas agressões à ex-mulher e melhorar o relacionamento com os filhos.

¿ A gente aprende a conviver. Não brigo mais, mudei de casa e fico com as crianças no fim de semana. Estou gostando da experiência ¿ diz ele, que vai freqüentar o grupo por 18 meses, uma vez por semana.