Título: Amorim admite: tropas do Brasil vão ficar mais tempo no Haiti
Autor: Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 13/01/2005, O Mundo, p. 31

Aliviado com as últimas liberações de recursos para a reconstrução do Haiti, como o anúncio de mais de US$ 100 milhões do Banco Mundial, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou ontem, ao discursar numa reunião especial do Conselho de Segurança da ONU, que o dinheiro ajuda mas não é suficiente para que o país caribenho possa superar uma intensa crise política, econômica e institucional.

Amorim admitiu a possibilidade de as tropas brasileiras continuarem no Haiti até as eleições, previstas para novembro deste ano. A missão de paz renovou seu tempo de permanência em território haitiano há 60 dias e, oficialmente, ficaria somente mais quatro meses lá.

¿ Essa decisão não depende apenas do governo brasileiro. Precisa da aprovação do Congresso Nacional e do envolvimento de outros países. Temos de saber se a comunidade internacional também está disposta a fazer parte desse projeto ¿ afirmou o chanceler.

Amorim fez um apelo para que a recente tragédia das tsunamis na Ásia não tire o Haiti da escala de prioridades da ONU.

¿ Por piores que sejam outras tragédias, às quais seguimos atentamente e que necessitam de resposta urgente e coordenada da comunidade internacional, não podemos permitir que o Haiti deixe de ser prioridade na agenda internacional. Se considerarmos as taxas de mortalidade infantil, por exemplo, não é exagero dizer que o Haiti tem sofrido os efeitos de uma verdadeira tsunami econômica nos últimos dois séculos ¿ disse o chanceler.

Segundo Amorim, a normalização do Haiti depende da participação da comunidade internacional. Sem desprezar a necessidade de um rigoroso desarmamento, para que sejam estabelecidas as condições mínimas de segurança antes e depois das eleições de novembro, Amorim enfatizou que os ingredientes mais importantes são esperança, confiança e legitimidade.

¿ Buscamos o desarme dos espíritos pelo diálogo político. A estabilidade no Haiti não poderá ser alcançada somente pela repressão. Necessitamos de um acordo entre todos, que una a comunidade internacional e as forças políticas do país num compromisso de longo prazo.