Título: Setor elétrico exige US$5 bilhões anuais para atender a demanda
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Fonte: O Globo, 09/01/2005, Economia, p. 26

A partir de 2006, investimento em uso racional da energia será menor

¿ Se precisar, eu gasto mesmo. Não quero nem saber ¿ diz Aurora de Almeida, funcionária pública aposentada que mora em Copacabana, no Rio, com sua mãe e uma empregada.

Aurora afirma que, na época do racionamento, trocou lâmpadas e tomou todas as medidas necessárias para reduzir o consumo de energia. Agora, voltou a adotar lâmpadas incandescentes e usa com mais freqüência aparelhos como máquina de lavar louças e forno microondas. Com isso, seu consumo de energia dobrou, passando de pouco mais de 100kWh para 210kWh. Aurora diz que manteve alguns hábitos do racionamento, como não deixar lâmpadas acesas sem necessidade. Mas admite que agora não se preocupa mais em poupar.

O desperdício de energia no país é considerado muito elevado por especialistas, levando em conta que, para atender à demanda crescente, é preciso acrescentar anualmente pelo menos três mil megawatts (MW) por ano, exigindo investimentos de US$5 bilhões por ano. Segundo estimativas do Instituto Nacional de Eficiência Energética (INEE) ¿ uma ONG ¿ os desperdícios chegam a 20%, 30% e até 50% em alguns setores seja em processos, instalações ou equipamentos.

¿ É inaceitável que em um país em desenvolvimento, cuja principal restrição seja a carência de recursos financeiros, não se dê a importância devida à necessidade de uso eficiente de um insumo vital como energia, intensivo em capital ¿ afirmou o presidente do INEE, Marcos José Marques.

Para o executivo do instituto, que trata das diversas formas de eficiência energética, a atenção que hoje os órgãos governamentais dão a programas de uso racional de energia é muito pequena. Os investimentos anuais do Procel, de R$50 milhões, e do Compet (na área de combustíveis), de R$7,5 milhões, seriam muito modestos para apresentar resultados efetivos no curto e médio prazos, diz o especialista.

País precisaria de programa de grandes proporções

Segundo Marques, o país precisa de um programa de conservação de energia elétrica de grandes dimensões.

¿ Falta vontade política. E é preciso dar prioridade e lançar um efetivo programa de racionalização de energia, fortalecendo o Procel e o Compet ¿ disse Marques, acrescentando que diversos órgãos do governo deveriam atuar juntos nesse programa de racionalização, como a Fazenda e o Planejamento. Nesse programa, o governo poderia dar incentivos para fabricação de equipamentos e motores mais eficientes.

Além do Procel, as distribuidoras de energia investem 0,5% do seu faturamento anual em projetos voltados para a eficiência energética. Segundo o presidente da Associação Brasileira dos Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), Luiz Carlos Guimarães, este ano representou investimentos da ordem de R$200 milhões. Segundo Luiz Carlos, as distribuidoras desenvolvem projetos específicos voltados para as indústrias, maiores consumidores de energia.

Para piorar a situação, a partir de 2006, os recursos das distribuidoras aplicados em racionalização de energia serão menores. A partir de 2006, conforme a legislação em vigor, em vez de 0,5%, serão destinados apenas 0,25% do faturamento das distribuidoras em programas de eficiência energética. Já em Pesquisa e Desenvolvimento, serão aplicados 0,75%, em vez dos 0,5% atuais.

O presidente do INEE lembra que o maior desperdício de energia é em máquinas e equipamentos. Por isso, para ele, é fundamental não apenas o desenvolvimento de motores e equipamentos mais eficientes, mas também o incentivo a indústrias para trocar máquinas.

Marcos José Marques lembra que, em outubro de 2001, em pleno racionamento, foi criada a lei 10.295, que trata do uso racional de todas as formas de energia. Essa lei levou dez anos para ser votada e agora está em fase inicial de regulamentação.

No momento, encontra-se sob análise o texto que define valores mínimos para eficiência energética para motores de um a 250 hp de potência. A partir de 2006, todo novo motor fabricado no país ou importado terá que se enquadrar nas exigências de eficiência energética definidas na regulamentação da lei.

¿ Essa lei é importante, mas é um processo de médio e longo prazo ¿ diz Marques.