Título: Conta-investimento: bancos oferecem novos benefícios para segurar clientes
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 06/12/2004, Economia, p. 20

A conta-investimento acaba de completar dois meses e já se transformou em um verdadeiro campo de batalha, no qual instituições financeiras utilizam as mais diferentes armas para fisgar os clientes. As novidades vão desde o lançamento de produtos até a criação de uma linha de financiamento vinculada aos créditos da conta-investimento. E corretoras também estão entrando na disputa, criando fundos diferenciados para concorrer com os de grandes bancos.

O Unibanco e o ABN Amro têm a estratégia mais agressiva: abriram uma linha de crédito para investidores com um limite de até 90% do valor total aplicado. Ou seja, quanto maior o investimento, maior o empréstimo. A intenção é evitar que o cliente resgate as aplicações ¿ seja para migrar para outra instituição ou para pagar contas, por exemplo.

¿ Se o investidor vai receber o salário em três dias, mas precisa pagar uma conta hoje, pode lançar mão do crédito, a juros de 3,5% ao mês. O produto tem tido uma aceitação muito boa: hoje, de cada dois investidores, um tem a linha ¿ afirma Marcos Buckton, diretor de Captações do Unibanco.

Fundos com taxas mais baixas para seduzir clientes

No ABN, o crédito está limitado a R$ 100 mil. Para atrair novos clientes e reter os antigos, o Bradesco acaba de colocar no mercado três novos fundos: um de dividendos, outro de ações de segunda linha e um terceiro multimercado ¿ categorias que oferecem um pouco mais de risco, em geral oferecidas por instituições independentes. Todos com aplicação mínima de mil reais e taxa de administração de 3% ao ano.

¿ São fundos mais tarja preta, mas que faziam falta na nossa família de produtos. Agora temos fundos para todos os perfis de cliente ¿ avalia Sérgio de Oliveira, diretor-executivo do Bradesco e vice-presidente da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid).

E gestoras de recursos e corretoras independentes estão entrando nessa briga. A corretora Solidus, por exemplo, acaba de lançar um fundo de ações com taxa de 2% ao ano e já planeja colocar no mercado, até janeiro, um fundo de dividendos e outro de ações a taxas mais baixas:

¿ Taxas menores comem menos da rentabilidade do fundo, garantindo um ganho maior ao aplicador ¿ explica a diretora Débora Morsch.

Atento a isso, o analista de sistemas Gerson Lima acaba de transferir suas aplicações por meio da conta-investimento. Ele migrou de um fundo com taxa de 5% ao ano para outro de 1,5% ao ano:

¿ Troquei fundos com taxas mais altas e baixa rentabilidade por outros com cobranças menores e ganhos maiores. A conta-investimento me deu mais liberdade de buscar o que há de melhor no mercado.

Como a Solidus, a gestora de recursos Leme Investimentos também colocou produtos novos na praça, na esteira da conta-investimento, como o Leme Multimercado.

¿ O grande diferencial é a rentabilidade. Enquanto os fundos de grandes bancos garantem, no máximo, 95% do CDI, conseguimos um retorno de cerca de 105% do CDI. Isso ocorre porque temos fundos pequenos, fáceis de serem gerenciados. Nosso foco é gestão, enquanto nos bancos esse é apenas um dos negócios. Isso faz toda a diferença. Por isso, nosso principal alvo é o cliente de varejo que está insatisfeito com a rentabilidade dos bancos ¿ diz André Hahn, diretor-presidente da Leme.

Moacyr Castanho, superintendente de fundos do Banco Itaú, diz que a instituição está monitorando o mercado e não tem medo da concorrência:

¿ Há mercado para todos e gestores, corretoras e bancos têm clientes diferenciados. Além disso, fizemos um estudo que mostra que o cliente busca segurança, liquidez e rentabilidade numa instituição, nessa ordem. Por isso, levamos vantagem: o Itaú é uma marca forte, que transmite segurança ao investidor, além de trazer rentabilidade ¿ acredita.

A engenheira Paula Thomé, correntista do Banco do Brasil, aproveitou a conta-investimento para fazer transferências que já estavam planejadas desde o início do ano mas, devido ao custo da CPMF, foram adiadas:

¿ Sempre que eu fazia as contas de quanto ia custar trocar de aplicação, desistia. Sempre pensava que este dinheiro podia estar rendendo e não sendo gasto para mudar de fundo.

Marcelo D¿Agosto, sócio da consultoria Fortuna, alerta que, seja qual for a instituição, o investidor deve informar-se ao máximo na hora de aplicar:

¿ Não importa se é um banco de varejo ou um banco pequeno. A regra é a mesma: procure saber qual é a filosofia de gestão, a solidez do negócio, o perfil de risco da instituição. São condições básicas para se evitar problemas no futuro ¿ avalia D¿Agosto, que lançou na semana passada o livro ¿Como escolher o melhor fundo de investimento¿.