Título: Agora é Lula
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 25/11/2004, Coluna Panorama Político, p. 2

A expressão acima, que já foi um bordão de campanha, agora indica uma mudança na conduta do presidente da República: pensando mais no rumo do governo, no legado de seu mandato e na própria reeleição, está compartilhando menos seu poder. Fala-se em "despetização" do governo com a reforma ministerial mas talvez esteja em curso a sua completa "lulização".

Lula montou o primeiro Ministério levando em conta, sobretudo, seus laços com o PT e os interesses do partido. Contemplou todas as correntes, abrigou amigos e consolou derrotados, deu-lhes carta branca para montar suas equipes. Nem todos corresponderam, em matéria de eficiência. Nem todos pensam primeiro em Lula e no governo ao fazer política no cargo. Na reforma do ano passado, o PMDB foi incorporado mas a diretriz principal não mudou. Na de agora, Lula vem indicando que será menos indulgente com o PT.

Nesta linha, decidiu abrigar as forças que serão importantes não apenas para a tarefa de governar mas também para a sucessão de 2006. O PMDB será fortalecido. Além dos votos no Congresso, o partido terá um papel na sucessão. Pode desequilibrar o jogo pulando para o barco tucano ou lançando a hoje não vislumbrada candidatura própria. O PTB e o PP, da mesma forma, terão seu papel no jogo das alianças.

Lula ontem toureou os deputados do PMDB e vem conversando com o PP. Deslocou-se assim, pessoalmente, para a linha de frente das articulações, tornando-se ele próprio o coordenador político do governo. Se prefere Aldo Rebelo nesta função, pode ser porque ele executa a política lulista, e não a petista.

Em outra demonstração de que agora está mais cioso de seu poder, enfrentou os ministros que criticaram a política econômica avisando que ela não muda. É com ela que vai até o fim para o que der e vier. E acredita que virão bons resultados.

Demitiu Carlos Lessa do BNDES sabendo que enfrentaria reações. Mais do que as trombadas de Lessa com o governo, pesou sua preocupação com o desempenho do banco no ano crucial de 2005.

Bancou a política econômica mas ontem impôs suas prioridades orçamentárias para o ano que vem: um reajuste melhor para o salário-mínimo, correção da tabela de Imposto de Renda, num aceno para a classe média, e ressarcimento aos estados pelas perdas com a desoneração das exportações, em busca da reaproximação com os governadores.

E tem controlado a informação. Ninguém soube de véspera da queda de Lessa nem da escolha de Guido Mantega para seu lugar. O mesmo ocorreu na saída de Viegas da Defesa.

Mas para ser completo o serviço, Lula teria que ampliar a reforma ministerial, substituindo todas as peças, não interessa a cor partidária, que estejam funcionando mal.