Título: Alckmin pede a Bornhausen repetição de aliança
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 12/01/2006, O País, p. 9

Para ter PSDB na cabeça de chapa presidencial, senador quer uma 'reengenharia estadual', com apoio a Afif

SÃO PAULO. À caça de apoio político para sua pré-campanha à Presidência pelo PSDB, o governador Geraldo Alckmin disse ontem ao presidente nacional do PFL, Jorge Bornhausen, que gostaria de repetir nas eleições estadual e presidencial deste ano a aliança dos dois partidos, responsável pelas eleições de Fernando Henrique. A coligação também governa hoje a cidade e o estado de São Paulo.

- O governador repetiu o que já tem dito, da boa experiência entre o PSDB e o PFL e da importância de essa aliança continuar - disse Bornhausen, convidado para uma conversa com Alckmin no Palácio depois de uma reunião do dirigente pefelista com o vice-governador, Claudio Lembo, e com o vice-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, ambos também do PFL.

Bornhausen, por sua vez, deixou claro que uma possível aliança tendo o PSDB como cabeça de chapa na esfera federal exigiria uma "reengenharia estadual". Em outras palavras, o PFL só aceitaria o casamento com os tucanos na eleição presidencial se tivesse o apoio do PSDB a candidatos pefelistas a governador em alguns estados.

Para a eleição ao governo de São Paulo, por exemplo, Bornhausen aposta no presidente da Associação Comercial de São Paulo, Guilherme Afif Domingos.

- Se houver uma aliança nacional, temos de fazer uma reengenharia estadual - disse o presidente do PFL.

Perguntado se a verticalização impediria acordos nos estados, Bornhausen foi enfático:

- Sou a favor da desverticalização, que não é boa para ninguém.

Estratégia pefelista só vai ser divulgada em março

Diferentemente do PSDB, a cúpula pefelista já decidiu que traçará a estratégia para o processo eleitoral deste ano apenas depois de março. Já os tucanos pretendem confirmar o nome que vai concorrer à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva antes mesmo da data-limite de desincompatibilização, em 31 de março.

Ainda no encontro no Palácio dos Bandeirantes, o pefelista reiterou que seu partido deverá por enquanto lançar candidato próprio à eleição presidencial - no caso, o prefeito do Rio, César Maia - e que não procedem as especulações de que a cúpula do PFL prefere o nome do prefeito José Serra ao de Alckmin.

Para Bornhausen, Serra e Alckmin são nomes qualificados. Sobre as declarações de Cesar, de que abriria mão de sua candidatura em favor da de Serra, o presidente do PFL retrucou:

- Temos um compromisso desde dezembro de 2004, quando ele (César) colocou sua candidatura. Não há razão para mudar o rumo. Se o Cesar Maia ratificar sua candidatura, o assunto está resolvido e uma aliança, é claro que com o PSDB, ficaria para um segundo turno. Se o Cesar Maia abrir mão da disputa, aí discutiremos a coligação com o PSDB.

'Não me sinto nem me sentirei pressionado'

Evitando falar da escolha do candidato tucano, Serra diz que decisão de Alckmin é 'direito dele'

SÃO PAULO. Quatro dias depois de o governador Geraldo Alckmin (PSDB) declarar que vai se desincompatibilizar do cargo para tentar ser o candidato tucano na eleição presidencial, o prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), afirmou ontem que não se sente pressionado para decidir se disputará novamente a Presidência da República. Evitando falar sobre o assunto, Serra, diante da insistência dos repórteres, também não negou uma possível candidatura.

- Não me sinto nem me sentirei pressionado. Não vejo como pressão o que o Alckmin falou. É um direito dele e não tenho nada a acrescentar a esse respeito - disse o prefeito.

A interlocutores, Serra não esconde o dilema

Serra negou-se a responder se vai ou não concorrer novamente à Presidência.

- Lamento decepcioná-los. Eu não vou falar muito disso (eleições), mas só queria dizer que, do meu ângulo, não há nada para me manifestar neste momento. Se tiver alguma coisa para dizer, eu chamo a imprensa e digo - afirmou.

A interlocutores da prefeitura, Serra não esconde o dilema que vive neste período pré-eleitoral. Eleito com a promessa de se manter no cargo durante os quatro anos de mandato (chegou a assinar uma procuração se comprometendo a não deixar o cargo), o prefeito não quer ver escorregar por entre os dedos os altos índices de popularidade que o apontam como o candidato com maiores chances de vencer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo as últimas pesquisas.

Candidato tucano oficial só em meados de março

Os tucanos só devem decidir em meados de março quem será o candidato do partido à Presidência da República. Ontem, ao ser perguntado se Alckmin teria se precipitado ao antecipar o jogo sucessório dentro do partido, Serra preferiu desconversar.

- Não acho precipitado nem não precipitado. Realmente cada um pode fazer a manifestação que quiser, pois tem o direito de falar - disse o prefeito, que durante discurso no hospital criticou a operação tapa-buracos do governo federal. - Começamos a tapar buraco desde o primeiro dia da nossa administração. Não esperamos chegar ao quarto ano de governo para tapar buracos - afirmou ele. (Flávio Freire)