Título: DEPUTADOS DEFENDEM VOLTA DOS BRASILEIROS
Autor: Maria Lima e Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 09/01/2006, O Mundo, p. 16

Comissão da Câmara reclama de falta de recursos e propõe retorno após eleições

BRASÍLIA. Membros da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados disseram ontem acreditar que, com a morte do general Urano Bacellar, os cerca de 1.200 soldados brasileiros que se encontram no Haiti deverão voltar para o Brasil logo após as eleições haitianas. Os parlamentares afirmaram que os militares fazem um bom trabalho, mas acrescentaram que não há condições de permanecerem no país sem que sejam liberados recursos prometidos pela ONU.

Para Orlando Fantazzini (PSOL-SP), membro da comissão, o Brasil cumpre seu papel no Haiti, mas o governo estaria sendo enganado, porque investimentos prometidos, principalmente pelos EUA, não estão chegando.

¿ Por um lado é bom porque o Brasil ganha experiência em missões internacionais. Por outro, é lamentável que o Brasil preste um serviço sujo aos EUA, que não fazem os investimentos prometidos. A morte do general Urano nos força a uma reflexão sobre a manutenção ou não das tropas no Haiti. Assegurada a eleição, é hora de ir para casa ¿ disse ele.

Para Gabeira, adiamento de eleição frustrou general

Já o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) afirmou que os soldados brasileiros ¿não estão indo mal na missão¿. Ele também considerou que o Brasil deve deixar o Haiti, mas assinalou que a saída deve ser cuidadosa, para que Porto Príncipe não fique desguarnecida. Depois de analisar entrevistas do general, Gabeira disse acreditar que ele não estava entusiasmado com a missão.

¿ Ele declarou que era um soldado e estava cumprindo ordens. Pode ser uma declaração sem nada demais, mas também deu a entender que não estava entusiasmado. Acho que o general jogava na expectativa de que as eleições poderiam alterar o quadro. O adiamento da eleição foi uma frustração.

O deputado disse também acreditar que Bacellar se sentia pressionado pelo setor conservador da política do Haiti e pelos americanos.

¿ Os brasileiros estão sendo pressionados a quebrar o pau contra pobres que vivem em favelas. A questão não é militar, mas social ¿ disse.

O Partido Verde deve propor hoje ao Congresso a criação de uma comissão para acompanhar no Haiti as investigações da morte do general, bem como as eleições.

Também membro da Comissão de Relações Exteriores, o deputado Babá (PSOL-RJ) apresentou em dezembro um projeto que propunha a imediata retirada das tropas brasileiras do Haiti. Ele enumerou 17 motivos para os brasileiros deixarem o país, entre eles a alegação de que, mesmo com as forças da ONU, o Haiti continuaria ¿inseguro como sempre foi¿.

O professor de Direito Internacional da Uerj, Antônio Celso Alves Pereira, contudo, crê que o Brasil deve manter sua presença militar no país e que, com todas as críticas que a missão da ONU tem sofrido, deve continuar no comando.

¿ A força de paz tem uma importância capital e o Brasil vem desempenhando papel importante lá ¿ disse ele, discordando das críticas. ¿ Esse trabalho só poderá ser avaliado quando estiver completo, depois que o novo presidente estiver eleito, e o Estado estiver reinstituído.

COLABOROU: Jaime Biaggio