Título: Artificial
Autor: Flávia Oliveira
Fonte: O Globo, 17/12/2005, Economia, p. 36

O mercado não se iludiu com a recente escalada do dólar. Os analistas afirmam sem hesitar que a valorização de 7,3% da moeda americana em oito dias é artificial. E não tem como se sustentar por muito tempo. O dólar subiu no Brasil ao mesmo tempo em que se desvalorizou em outros países. O descompasso tem uma só explicação: as intervenções diárias do Banco Central no câmbio, que já não tem flutuado espontaneamente

Desde que retomou a compra de dólar futuro por meio dos leilões de swap reverso, há pouco menos de um mês, o BC já negociou cerca de US$8,2 bilhões. A compra sistemática fará com que a dívida do BC atrelada ao câmbio chegue praticamente a zero antes do fim do ano.

Atualmente, o endividamento alcança US$2,2 bilhões. Significa dizer que, com as compras diárias próximas de US$600 milhões, não serão necessários mais de quatro dias para zerar a dívida.

O BC também tem entrado forte no mercado à vista, comprando diariamente cerca de US$300 milhões. Nos últimos dias, acumulou pouco mais de US$2,5 bilhões, segundo estimativas do mercado.

O esforço tem dado resultado. Afinal, o dólar subiu por oito dias seguidos. Mas ninguém acredita que a moeda se manterá no novo patamar por muito tempo. E a razão é simples: os dólares continuam entrando em abundância no país ¿ seja por causa da balança comercial, pelos juros altos, pela excessiva liquidez do mercado internacional

¿ O BC está muito agressivo e isso é insustentável por muito tempo. As forças de apreciação do real continuam muito vivas ¿ comenta Alexandre Maia, economista da Gap Asset.

Enquanto subia no Brasil, o dólar se desvalorizou 1,6% em relação ao euro na última semana. O fenômeno, avisam os analistas, é tão ocasional quanto o recuo no mercado brasileiro. O mercado aposta que faltarão força e argumentos ao BC para continuar sustentando a valorização da moeda americana.

¿ O mercado cambial não tem fôlego para muito mais. Se o BC continuar por mais um tempo, o dólar pode até chegar aos R$2,40, mas, se sair, cairá novamente. Ou seja, o BC teria que continuar atirando muito forte ¿ diz Maristella Ansanelli, do Banco Fibra.

¿ Com o fim da dívida e as reservas no nível em que estão, como o BC vai justificar a atuação no câmbio? Essa operação tem um custo muito alto. A verdade é que o BC decidiu entrar num embate com o mercado. Nessa disputa, o BC sempre perde ¿ completa Rachel Fleury, da Tendências.

A conferir, como diria o colega Ancelmo Gois...