Título: BIRD: REMESSAS DE EMIGRANTES ATINGIRÃO US$ 356 BI
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 17/11/2005, Economia, p. 31

Banco Mundial recomenda a países ricos melhorar a condição dos trabalhadores e a pobres, facilitar envio dos recursos

WASHINGTON. Em sua mais recente avaliação da economia global, divulgada ontem, o Banco Mundial (Bird) concluiu que as remessas feitas pelos emigrantes, que trabalham em países ricos, se tornaram uma das armas mais eficientes para aliviar a pobreza nos países em desenvolvimento.

Em seu estudo, os economistas constataram ainda que esse movimento maciço de mão-de-obra através das fronteiras gera um capital formidável que beneficia também os países que acolhem os trabalhadores - inclusive os que chegam a eles ilegalmente.

Segundo o Bird, se esse fenômeno se mantiver no ritmo atual, ele poderá gerar uma renda global real de US$356 bilhões anuais nas próximas duas décadas, "rivalizando com os ganhos potenciais da reforma do comércio global de mercadorias".

'Papel dos emigrantes deve ser reconhecido'

Desse total, os emigrantes embolsam US$162 bilhões, os seus familiares nos países em desenvolvimento recebem US$143 bilhões e sobram aos países ricos US$51 bilhões. Em seu informe, intitulado "Perspectivas Econômicas Globais", o Bird sugere que para tirar proveito disso as nações em desenvolvimento devem buscar acordos com aqueles países para onde vão os seus trabalhadores, "de forma a melhorar as condições de travessia das fronteiras, a busca de trabalho e a manutenção do emprego, assim como a do envio de remessas para as suas famílias".

- O papel dos emigrantes na promoção do crescimento econômico, no desenvolvimento e na redução da pobreza deve ser reconhecido e reforçado. Com o número de emigrantes chegando a quase 200 milhões atualmente, a sua produtividade e rendimentos são uma força poderosa para a redução da pobreza - disse François Bourguignon, economista-chefe e vice-presidente para Economia de Desenvolvimento, do Bird.

Os envios de dinheiro por trabalhadores já teriam reduzido em 11% a pobreza em Uganda, 6% em Bangladesh e 5% em Gana. "Além disso, as remessas parecem ajudar as famílias a manterem os seus níveis de consumo em meio a choques econômicos e adversidades", diz um trecho do informe.

Pelas novas estimativas, as remessas este ano chegarão a um total de pelo menos US$232 bilhões, sendo que US$167 bilhões irão para as nações em desenvolvimento e US$65 bilhões, para os países ricos - já que França, Alemanha e Grã-Bretanha também aparecem como recipientes, assim como Espanha e Bélgica, devido à crescente movimentação de mão-de-obra na Europa.

Essas cifras, no entanto, seriam acanhadas, pois registram apenas as remessas feitas formalmente, por meio de bancos. Levando em conta as que são realizadas via canais informais, o volume seria 50% maior. O total, portanto, seria de US$363 bilhões - dos quais US$250 bilhões vão para os países em desenvolvimento.

A Índia é o pais que mais receberá este ano - US$21,7 bilhões - seguida da China, com US$21,3 bilhões, e do México, com US$18,1 bilhões. A França, curiosamente, é a quarta nesse ranking, com US$12,7 bilhões. O Brasil é o décimo terceiro no geral e o segundo na América Latina, com US$3,6 bilhões - ainda que índices utilizados por outra entidade, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), registrem uma entrada de pelo menos US$5 bilhões no país.

Bird reduz previsão de crescimento este ano

O Bird alerta os governos, em seu informe, para que não vejam as remessas dos trabalhadores como um substituto para os investimentos visando ao desenvolvimento econômico do país. Além disso, o banco apela para que os governos facilitem cada vez mais a entrada desse dinheiro e, sobretudo, não cobrem taxas sobre os recebimentos:

- As remessas são feitas por dinheiro ganho muito duramente e, na maioria dos casos, já foram taxadas na origem - disse Bourguignon.

O Bird também anunciou que, devido à alta dos preços do petróleo, a economia mundial este ano crescerá 3,2% (contra os 3,8% do ano passado). A expansão dos países em desenvolvimento também foi revista, de 6,8% para 5,9%.

inclui quadro:dinheiro que vem de fora / REMESSAS DOS TRABALHADORES NO EXTERIOR PARA OS SEUS PAÍSES / % DAS REMESSAS NO PIB