Título: PERDA DE ESTOQUES DE CAFÉ DOS EUA COM FURACÃO ELEVA PREÇO EM ATÉ 20%
Autor: Vagner Ricardo
Fonte: O Globo, 09/09/2005, Economia, p. 22

Mesmo produto brasileiro que não é exportado já está mais caro no atacado

O preço do café brasileiro no mercado internacional está em alta, diante das informações de que parte dos estoques do produto nos Estados Unidos foi afetada pelo furação Katrina. Segundo o gerente do Centro do Comércio de Café do Rio de Janeiro (CCCRJ), Guilherme Pires Neto, em Varginha, uma das principais áreas de plantio de café de Minas, a saca do produto destinado ao mercado doméstico custa agora US$81,53 ¿ 20,91% acima da média dos últimos 12 meses em dólar. Já o preço do café para exportação subiu 4,4%, para US$102,68.

¿ A perspectiva já era de alta do café brasileiro, por causa da safra menor este ano. Mas as notícias sobre as perdas americanas estão fazendo os preços reagirem antes do esperado ¿ admitiu Pires Neto.

A previsão do mercado é de que a safra brasileira seja de 33,5 milhões de sacas este ano, abaixo dos 43 milhões de 2004. No Rio, os produtores reajustaram os preços médios da saca de 60 quilos de café de melhor qualidade de R$220 para R$245, uma alta de 11,36%, segundo a Associação dos Cafeicultores do Estado do Rio de Janeiro (Ascarj).

Receita das vendas subiu 58,7% este ano no Brasil

Efigênio Salles, presidente da entidade, afirma que, sem o furacão, a expectativa era de que os preços da saca do café consumido no mercado interno chegassem aos R$300 só em dezembro. Agora, a alta pode ser antecipada. Até o primeiro trimestre do ano, o preço da saca atingiu o teto de R$350, mas cedeu com a colheita da nova safra, a partir de abril.

Tito Higgins, sócio da corretora Heding-Griffo, explica que a flutuação dos preços ocorre porque Nova Orleans, duramente afetada pelo furacão, pode ter perdido de cem mil a 300 mil sacas de 60 quilos de café estocadas. O porto da cidade é importante canal de entrada e de distribuição de produtos para o EUA e concentra 26% dos estoques americanos de café. Antes da tragédia, armazenava 1,6 milhão de sacas. Como as águas podem levar até 90 dias para baixar, coincidindo com a chegada do frio nos Estados Unidos e na Europa, acredita-se que grande parte dos estoques ficará inacessível para as torrefadoras americanas, como a Folger, que processa 60% de seu café em Nova Orleans. O entendimento é de que os estoques terão de ser recompostos, puxando os preços da commodity.

Dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) mostram que os embarques somaram 17,4 milhões de sacas de janeiro a agosto, uma expansão de 7,8% sobre o mesmo período do ano passado. A receita das vendas subiu, no período, 58,7%, de US$1,2 bilhão para US$1,9 bilhão.