Título: Acuado pelas denúncias, Severino reage em NY: `É mentira, é mentira¿
Autor: Helena Celestino
Fonte: O Globo, 09/09/2005, O País, p. 4

`Não posso acreditar na palavra de um farsante, tenho de ver o que foi dito¿

NOVA YORK.¿É mentira, é mentira, é mentira.¿ A afirmação, feita com raiva, é do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), em resposta às acusações do empresário Sebastião Buani de que lhe teria pago propina. Ontem, em Nova York, durante todo o dia Severino parecia acuado pelos acontecimentos no Brasil. Só no final da tarde, depois de passar longo tempo falando no telefone, conseguiu articular a primeira resposta às notícias vindas de Brasília.

¿ Não posso acreditar na palavra de farsante, tenho que ver o que foi dito para poder responder. Amanhã (hoje) à tarde terei tudinho preparado, não vou deixar isso sem resposta ¿ afirmou, contando que ainda não havia conseguido conversar com os advogados.

Até esse momento, Severino ficara todo o tempo praticamente sem falar, fugindo dos jornalistas e cumprindo mecanicamente sua agenda na ONU. Numa cena constrangedora, o presidente da Câmara passou três minutos mudo diante das câmeras de televisão, enquanto era bombardeado por pedidos de explicação dos repórteres. A lista de acusações e de ameaças que rondam Severino era reproduzida pelos jornalistas, aos gritos, enquanto ele tentava achar o carro para se abrigar e percorrer menos de cem metros, do restaurante Ambassador Grill , onde almoçara, à entrada da sede da ONU.

¿Não vou falar, só no Brasil. Até segunda¿

Severino andava em círculos, em busca do carro que o levaria da porta do restaurante até a entrada da sede da ONU.

¿ Não vou falar, só no Brasil. Até segunda ¿ disse, num primeiro momento, referindo-se ao dia em que retorna ao trabalho, em Brasília.

O silêncio carrancudo de ontem foi um contraste extremo com a descontração e as declarações desencontradas da véspera, quando Severino passeou por três versões diferentes para o contrato de gaveta que teria assinado, garantindo a Sebastião Buani a exploração até 2005 do restaurante da Câmara, em troca de um mensalinho.

Pela primeira vez, Severino parecia acuado pelos fatos de Brasília. Até então, em dois dias de almoços, recepções e jantares, entre outros encantos da mais famosa cidade americana, repetiu que as denúncias estavam sendo desmentidas. Ontem, incomodado com os jornalistas, saiu escondido de uma recepção oferecida pelo candidato belga à Presidência da União Interparlamentar, organizadora do encontro na ONU. Sequer ouviu o discurso do anfitrião.

De manhã, dificuldades com o idioma

Severino começou seu dia na ONU às 8h58m, para a foto oficial dos presidentes de parlamentos com o secretário-geral, Kofi Annan, Sem assessores à escolta, foi à sala do Conselho Tutelar para apanhar o número de seu lugar na foto dos parlamentares, mas não conseguiu decifrar as explicações. Terminou salvo pela boa vontade de um brasileiro que dominava o inglês. Da foto, não terá saudades.

¿ Prefiro ser presidente da Câmara do que só um parlamentar ¿ constatou.

No plenário da Assembléia-Geral, passou o dia ouvindo os discursos dos participantes da II Reunião Mundial dos Presidentes dos Parlamentos. Pareceu cochilar várias vezes, inclusive quando Kofi Annan saudava os parlamentares ao microfone. Hoje, Severino fará finalmente seu par de discursos. O primeiro num café da manhã no Council of the Americas; depois nos seus quatro minutos na ONU.