Título: BNDES VAI FINANCIAR MULTINACIONAIS BRASILEIRAS
Autor: Mariza Louven
Fonte: O Globo, 27/08/2005, Economia, p. 29

Diretoria do banco aprovou criação de linha de crédito para apoiar abertura de empreendimentos do país no exterior

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai passar a incentivar a formação de multinacionais brasileiras. O superintendente da área industrial do banco, Carlos Gastaldoni, confirmou que, depois de mais de dois anos de estudos, a instituição aprovou em diretoria, mês passado, a criação da Linha de Internacionalização de Empresas Brasileiras, destinada a financiar empreendimentos verde-amarelos fora do Brasil.

O banco optou por não utilizar recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Vai emprestar dinheiro captado no mercado externo, ao custo da cesta internacional de moedas, entre outras razões, para evitar eventuais críticas como a de que estaria usando recursos do trabalhador brasileiro para criar empregos no exterior. A maior parte do orçamento do banco é formado pelas receitas do FAT.

Segundo Gastaldoni, o financiamento à internacionalização não terá uma linha de crédito barata. Sairá mais caro investir lá fora do que aqui, diz ele. Além do custo de captação externa, baseado na cesta internacional de moedas, será cobrado spread de 3% a 4,5%, mais um prêmio de performance a ser definido, de acordo com cada projeto.

Internacionalização garante a inserção estruturada

Além disso, para receber o apoio do banco, o empreendimento terá que gerar retorno igual ou superior ao valor financiado, e esses recursos devem ser remetidos ao Brasil num prazo a ser definido também de acordo com o projeto. Segundo Gastaldoni, esta restrição existe para garantir a repatriação de valor igual ou maior do que o emprestado. O superintendente do BNDES não informou qual é o número de projetos em análise, mas disse que o banco já está conversando com diversas empresas que têm grande potencial exportador.

Segundo ele, as empresas brasileiras deixaram para trás a fase de só exportar quando o mercado interno se retraía e fizeram esforço para aumentar as suas vendas externas, que decolaram e deverão chegar perto dos US$110 bilhões este ano. O próximo passo é a internacionalização, que além de envolver exportações, inclui o desenvolvimento de novos mercados, a implantação de bases comerciais, de redes de assistência técnica e de distribuição, bem como as bases de produção no exterior, explica Gastaldoni.

O superintendente do BNDES disse que o banco não divulgara anteriormente a aprovação da linha de financiamento à internacionalização, porque estava estudando a melhor maneira de implementá-la. Mas acrescentou que a inserção estruturada de empresas brasileiras no exterior é uma diretriz da política industrial, tecnológica e de comércio exterior aprovada pelo governo em 2003.

Nos últimos anos, o BNDES chegou a fazer uma experiência de financiamento à internacionalização, por meio do Pro-Soft. Incentivou mais de dez pequenos projetos que envolviam internacionalização, no setor de software. O Brasil tem mais de 18 mil empresas exportadoras, entre as quais muitas delas poderão investir para ter algum tipo de base no exterior e ficar mais perto dos grandes mercados consumidores.