Título: INSS REABRE POSTOS MAS ATENDIMENTO É PRECÁRIO
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Fonte: O Globo, 18/08/2005, O País, p. 13

Maioria dos segurados que foi às agências no Rio não foi atendida. Em São Paulo, metade não abre

RIO e SÃO PAULO. Milhares de segurados do INSS foram ontem às agências da Previdência no Rio na expectativa de a greve dos servidores, iniciada em 2 de junho, ter acabado. Mas a maioria das pessoas voltou para casa sem ser atendida. Em Padre Miguel, cerca de 300 pessoas aguardavam na fila, antes das 8h, na esperança de conseguir entrar. Mas o posto contava com apenas 20% dos funcionários e o atendimento foi precário ao longo do dia.

Muitos segurados, como a costureira Carina da Conceição, de 61 anos, dormiram na fila para garantir uma senha de manhã. Os números eram distribuídos por entre as grades que cercam a agência pelos poucos servidores que foram trabalhar.

- Há três dias tento requerer o auxílio doença e não consigo - reclamava a segurada.

Na Praça da Bandeira, só três tipos de serviços eram prestados: o primeiro atendimento de perícia, para os que deram entrada no pedido; procuração para liberação de pagamento e consulta de pagamentos bloqueados. Exceção foi o posto de Irajá, um dos maiores do Rio, que atendeu normalmente e ficou lotado. Segundo o INSS, das 90 agências do município do Rio e do interior, sete estão fechadas e 36 funcionam parcialmente. As outras estão abertas. Já o sindicato da categoria diz que 59 agências estão paradas.

Em São Paulo, no primeiro dia após o fim da greve, os segurados conseguiram atendimento apenas em metade dos postos da capital. Das 27 agências, só 15 abriram as portas, duas fizeram atendimento parcial e dez ficaram fechadas.

No posto Santa Marina, na Zona Oeste, cerca de 300 pessoas aguardavam atendimento na hora em que agência abriu as portas, às 8h. Alguns segurados chegaram na terça-feira à noite e dormiram na porta do posto para ter garantia de que seriam atendidos.

Mulher com leucemia lutahá um ano por atendimento

A dona-de-casa Zilah Moretti, de 58 anos, pegou o ônibus às 6h30m e foi ao INSS dar entrada no auxílio-doença. Não conseguiu. Chegou às 7h10m e a grade já estava fechada. Às 8h, apelou para ser atendida. O acesso foi negado. O drama de dona Zilah começou há pouco mais de um ano, quando ela descobriu que tem leucemia e que teria que parar de trabalhar para fazer quimioterapia. Para minimizar os gastos com medicamento e plano de saúde, ampliados desde então, ela foi orientada a pedir aposentadoria por invalidez, mas vem recebendo sucessivas negativas.

- Eles dizem que eu ainda posso trabalhar.

Legenda da foto: SEGURADOS TENTAM ser atendidos no posto de Padre Miguel: só 20% dos funcionários foram trabalhar