Título: Deputado influiu no INSS no auge das fraudes
Autor: Chico Otavio
Fonte: O Globo, 05/06/2005, O País, p. 5

TENTÁCULOS DO PODER: SETOR MAIS LIGADO AO PARLAMENTAR ERA A GERÊNCIA DE ARRECADAÇÃO E FISCALIZAÇÃO

Jefferson freqüentou gabinetes e festas da Previdência quando fiscalização era dominada por fraudadores

O salão de uma casa de festas do Rio Comprido explodiu em aplausos quando o principal convidado chegou. Corpulento, de terno aberto e cigarro entre os dedos, o deputado Roberto Jefferson recebeu as homenagens com gestos e sorriso discretos. Naquele dezembro de 1989, a festa de fim de ano do antigo Instituto de Administração Financeira e Assistência Social (Iapas) celebrava o início de uma estreita relação entre o parlamentar do PTB e o comando da Previdência no Rio. Era também o começo de uma escalada de fraudes que marcaria a história do órgão nos anos 90.

Aos 36 anos, Jefferson cumpria o segundo mandato quando compareceu ao almoço de fim de ano de auditores fiscais, procuradores e outros burocratas do Iapas ¿ mais tarde, INSS ¿ na casa de festas Le Buffet. Conduzido pelo então secretário regional da Receita Previdenciária, José Maria de Aguiar Neto, ele sentou-se no lugar de honra de um dos três salões com nomes franceses da casa.

Dois fraudadores foram homenageados no almoço

No evento, pelo menos dois funcionários posteriormente acusados de fraude também receberam aplausos: os ex-procuradores chefes do INSS Tayná de Souza Coelho e Sérgio de Bulhões Sayão.

Como é comum nesses casos, a influência política no preenchimento dos cargos estratégicos da Previdência no Rio não deixou rastros em papéis. Mas as imagens do almoço, registradas pelos próprios organizadores, não deixam dúvidas sobre a força de Jefferson junto à cúpula do órgão no estado. Este contato, porém, não se limitava a data festivas. Desde aquela época, a sede do PTB no Rio funcionava na Rua 13 de Maio 13, Centro, no mesmo endereço do gabinete do chefe da Arrecadação, onde o deputado era visto com relativa freqüência.

De março de 1991, quando foi divulgada uma lista de marajás beneficiários de indenizações obtidas por fraudes, a fevereiro deste ano, mês em que a PF prendeu 13 auditores fiscais, a Previdência no Rio foi sacudida por uma série de escândalos milionários que estabeleceu novo patamar para as cifras desviadas dos cofres públicas. Só a quadrilha da qual fizeram parte Sérgio Sayão (já morto) e Tayná Coelho estaria por trás de um rombo de R$600 milhões.

A influência de Jefferson na Previdência se consolidou na mesma época e teve dois momentos fundamentais: do fim dos anos 80 a 1992, quando a Arrecadação e Fiscalização era comandada por José Maria Aguiar Neto e o deputado ainda construía um patrimônio político que garantiria sucessivas reeleições, e de 1995 a 1999, período em que a chefia da Arrecadação passou às mãos da auditora fiscal Ivone Barros de Souza.

Cinco ex-gerentes acabaram presos este ano

Na segunda fase, seis das 11 gerências regionais de Arrecadação e Fiscalização foram ocupadas por fiscais que teriam, mais tarde, problemas com a polícia e com a Justiça. Cinco auditores presos este ano chefiaram gerências importantes: Antônio Vinícius Monteiro, na Penha; Francisco Cruz, no Centro; Joaquim Acosta Diniz, em Campo Grande; Luiz Ângelo Rocha, em Nova Iguaçu; e Maria Auxiliadora de Vasconcelos, também na Penha. Além deles, Cacilda Augusta Pinto, demitida por corrupção, ocupava a gerência de Copacabana.

A ex-gerente de Fiscalização e Arrecadação Ivone de Souza (1995-99), que foi condenada a 30 dias de suspensão num processo administrativo, admite conhecer Roberto Jefferson, mas nega que ele seja o seu padrinho político na Previdência. Ela sustenta que foi promovida por mérito próprio e que foi seu marido que a aproximou do deputado.

¿ Meu marido é motorista de táxi do aeroporto. Ele encontrava Jefferson em carreatas e churrascos ¿ disse.

Ivone nega as fraudes e afirma que ela e os colegas presos estão sendo vítimas de perseguições políticas na Previdência.