Título: Burocracia e custo, as maiores queixas
Autor: Luciana Rodrigues e Flávia Oliveira
Fonte: O Globo, 20/05/2005, Economia, p. 21

Pequenos empreendedores têm dificuldade para entrar no mercado formal

RIO e SÃO PAULO. As fronteiras da informalidade no Brasil guardam contradições e dificuldades. Enquanto os informais enfrentam barreiras para regularizar seus negócios, é comum a queixa de pequenas empresas formais sobre o custo de se manter dentro da lei. A pesquisa do IBGE constatou que 71,57% dos empreendedores informais sequer tentaram ir para a formalidade. Os que tomaram essa iniciativa apontam a burocracia (3,51%), seguida do elevado custo (2,77%), como o maior entrave.

Antes de alcançar a formalidade, Lauro Antônio de Oliveira Filho, o Laurinho, empurrou uma carroça de cachorro-quente durante seis anos. Vendendo uma média de 200 cachorros-quentes por noite, Laurinho lucrava mil reais por semana. Hoje, ele é dono de um pequeno restaurante em Irajá, na Zona Norte do Rio, com dez empregados. Feliz, Laurinho?

- Era, mas na época do cachorro-quente - responde, queixando-se de os encargos sobre a folha de pagamento e os impostos afetarem seu lucro. - Preciso manter o estabelecimento aberto 18 ou 20 horas por dia para pagar todos os encargos e ter algum ganho. Às vezes, tenho saudades da informalidade. Acho que o lucro era maior.

Mas o caminho de Laurinho não é fácil. Ana Paula da Silva e o marido, Luiz Rodrigues, mantêm há 13 anos uma banca improvisada de flores numa esquina movimentada do Centro antigo de São Paulo. Com medo dos fiscais da prefeitura, já tentaram se registrar três vezes, mas acabaram desistindo, devido ao excesso de burocracia e ao custo com as taxas.

- Meu marido começou aqui há 13 anos, carregando um balde e algumas rosas. As pessoas gostaram dele e pegamos clientela - conta Ana Paula, 21 anos e dois filhos pequenos, que mostra a carteira de trabalho sem qualquer registro de emprego regular.

Pelo critério do IBGE, ela e o marido - que já trabalhou numa empresa de arranjos florais e foi faxineiro num prédio - se enquadram na categoria do "por conta própria": o pouco que ganham vendendo vasos e maços de flores de R$5 a R$15 se confunde com as finanças pessoais. Sem qualquer financiamento, Luiz Rodrigues compra as flores quatro vezes por semana, e tábuas de madeira fazem as vezes de balcão.

COLABOROU Luciana Rodrigues

Legenda da foto: LAURINHO, DONO de restaurante: "Tenho saudades da informalidade"