Título: ÉTICA NA POLÍTICA
Autor:
Fonte: O Globo, 17/05/2005, Opinião, p. 6

Parece ser infindável a trágica crônica de casos de corrupção, fraudes e negócios ilícitos com a participação de políticos. Há operações no varejo, condenáveis por atropelar padrões éticos mínimos, mas existem situações próximas do banditismo, enquadradas com facilidade nas legislações penal e eleitoral.

Nos últimos dias, essa crônica foi acrescida da história nada edificante da cobrança de propina a empresários por um alto funcionário dos Correios apadrinhado pelo PTB, e da não menos deslavada chantagem de deputados estaduais de Rondônia com o governador Ivo Cassol (PSDB).

Os deputados Ronilton Capixaba (PL), Daniel Neri (PMDB) e Ellen Ruth (PP) aparecem numa gravação divulgada pelo ¿Fantástico¿ apresentando a Cassol a conta para barrarem um pedido de impeachment do governador: R$50 mil mensais para cada um.

O caso dos Correios, denunciado pela ¿Veja¿, estabelece uma ligação entre a propina e um possível caixa dois do partido e/ou de políticos petebistas. É o que dá a entender, também em gravação, Maurício Marinho, funcionário de carreira da ECT colocado pelo PTB no estratégico cargo de chefe do departamento de contratação e administração de material da empresa estatal. Marinho, enquanto embolsa R$3 mil em dinheiro vivo, fala em nome do presidente do partido, deputado Roberto Jefferson, e faz sugestivos comentários sobre o esquema partidário de captação ilícita de dinheiro junto a fornecedores da ECT.

Esses dois escândalos, e ainda a ação do casal Rosinha e Anthony Garotinho nas eleições de Campos, são mais uma prova da imperiosa necessidade de uma verdadeira reforma política. Da qual precisam constar o financiamento público de campanha e o estabelecimento de normas rígidas para fortalecer o princípio da fidelidade partidária, além das listas fechadas de votação. Já passou da hora de se fortalecer os partidos, reduzindo-se o peso dos políticos puxadores de votos, sustentados em plataformas demagógicas e populistas. Também é crucial subordinar o político ao eleitor. O mandato não é do político, é da sociedade.

Está em xeque a confiança na democracia. Enlamear a imagem da política é levar a população a descrer do voto. Com isso, abre-se espaço para aventuras que o país precisa manter relegadas ao passado.