Título: BRASIL PRODUZ MUITA CIÊNCIA E POUCA TECNOLOGIA
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 13/05/2005, Economia, p. 23

Estudo mostra que país responde por só 0,0019% das patentes internacionais, contra 1,6% da produção científica

O Brasil produz muita ciência, mas pouca tecnologia aplicada. Essa é a conclusão de um estudo de Carl Dahlman, do Banco Mundial (Bird), e do brasileiro Cláudio Frischtak, ex-Bird e hoje na InterB Consultoria. Em palestra no Fórum Nacional, eles mostraram que o Brasil responde por 2% da economia mundial, porém tem uma participação de apenas 0,0019% nos registros internacionais de patentes, ou seja, na criação de novas tecnologias.

Na produção científica, o peso do Brasil é próximo ao de sua relevância econômica: 1,6% dos artigos em publicações reconhecidas internacionalmente é de brasileiros.

Para Frischtak, falta um sistema de incentivos adequado para que a pesquisa científica leve à produção de tecnologia. Ele defende uma menor burocracia nos incentivos fiscais que, nos últimos anos, beneficiaram apenas um restrito grupo de empresas. Frischtak citou relatório recente do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), que concluiu que apenas 109 empresas utilizaram incentivos fiscais à inovação entre 1994 e 2004, num universo de mais de 70 mil companhias com dez ou mais funcionários.

Duas empresas ficaram com 61,9% dos incentivos

E, mesmo nesse pequeno grupo, há enorme concentração: só a Petrobras e a Embraer ficaram com 61,9% dos incentivos. Além disso, o efeito dessas vantagens é limitado. Para cada R$1 de incentivo, são gerados R$3 de investimentos em inovação tecnológica. Na média, os países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico criam R$9 em investimentos a partir de R$1 em incentivos.

Frischtak sugeriu incentivos em outros tributos federais além da redução do Imposto de Renda (IR), já que muitas pequenas e médias empresas, geralmente mais inovadoras, não pagam IR. E defendeu um mecanismo automático para concessão desses benefícios, para agilizar o processo.

Segundo o economista, o problema no Brasil é o baixo investimento privado em inovação, já que o volume de recursos alocados pelo setor público, 0,56% do PIB, está próximo ao de países ricos. No Japão, por exemplo, o governo investe 0,57% do PIB. Mas enquanto as empresas brasileiras destinam o equivalente a só 0,41% do PIB, as japonesas investem 2,52% do PIB.

Após a palestra de Frischtak, Sérgio Rezende, presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep, órgão do MCT), lembrou que a experiência brasileira de incentivo à pesquisa é muito recente:

¿ Não se começa a fazer pesquisa e desenvolvimento de uma hora para outra. Isso exige uma mudança de cultura.