Título: ANJ CRITICA DECISÃO DE JUIZ QUE PROIBIU LIVRO DE MORAIS
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Fonte: O Globo, 07/05/2005, O País, p. 10

Em nota, entidade classifica medida de censura prévia

GOIÂNIA e BRASÍLIA. A decisão do juiz Jeová Sardinha, da 7ª Vara Cível de Goiânia, de mandar recolher todos os exemplares do livro "Na toca dos leões", de Fernando Morais, foi classificada de censura pela Associação Nacional de Jornais (ANJ). A entidade divulgou nota, assinada pelo presidente, Nelson Sirotsky, acusando o juiz de agir "com grave violência contra o direito constitucional da liberdade de expressão". A venda foi proibida a pedido do deputado Ronaldo Caiado (PFL-GO), que se sentiu ofendido por alguns trechos.

Para a ANJ, o ideal seria que Caiado buscasse na Justiça a reparação, em vez de pleitear a censura prévia. "Nada justifica a medida obscurantista, que nos remete aos piores momentos do autoritarismo, de apreensão de livros", escreveu Sirotsky. "É determinação inédita e absurda, que caracteriza censura prévia. Esperamos que instâncias superiores da Justiça reparem essa lamentável decisão", concluiu.

A Editora Planeta já imprimiu 50 mil exemplares da obra e pôs grande parte no mercado. Agora, tem 20 dias para recolhê-los. O despacho impede a editora ou o autor de fazerem comentários sobre o livro e sobre a decisão judicial. A multa prevista é de R$5 mil cada vez que a determinação for descumprida. Por isso, os representantes da Planeta não quiseram dar entrevista.

Fenaj também condena decisão do juiz goiano

A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) também condenou a decisão. O presidente da entidade, Sérgio Murilo, disse que o autor foi amordaçado:

¿ Preocupa-nos a banalização da censura prévia. A Justiça está ressuscitando algo que foi muito usado na ditadura. E não é caso isolado, há um surto de decisões assim nos estados.

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Roberto Busato, criticou a decisão:

¿ Qualquer tipo de atentado à liberdade de expressão é uma afronta ao estado democrático de direito.

O livro conta a história da W/Brasil a partir do depoimento de seus fundadores: Washington Olivetto, Javier Llussá e Gabriel Zellmeister. Aborda também o assédio de candidatos. O trecho que levou Caiado a procurar a Justiça está inserido numa entrevista de Zellmeister. O publicitário contou ao escritor que Caiado, candidato à Presidência em 1989, tentou contratar a agência e revelou um plano para conter o crescimento populacional no Nordeste. A idéia seria pôr um esterilizante na água como forma de "acabar com a superpopulação nos estratos inferiores, os nordestinos". Zellmeister teria recusado a proposta de fazer sua campanha.