Título: EM 4 MESES, BUSH DEU 5 ENTREVISTAS
Autor: Toni Marques
Fonte: O Globo, 29/04/2005, O País, p. 8

Ronald Reagan teve 5,8 coletivas por ano; Bill Clinton, 62 em oito anos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está muito atrás do presidente americano que menos deu entrevistas coletivas, Ronald Reagan. Em dois mandatos, o americano deu uma média de 5,8 coletivas por ano (num total de 46 ao longo de 96 meses, incluídas entrevistas conjuntas com autoridades estrangeiras, por exemplo).

O levantamento americano é da cientista política Martha Joynt Kumar, professora da Universidade Townson, pesquisadora de comunicação presidencial. O atual presidente, George W. Bush, não é dos mais afeitos ao mecanismo das entrevistas coletivas. A fechada estrutura de comunicação de seu governo já foi apelidada, por um jornalista da revista "The New Yorker", de "Fortaleza Bush". Mesmo assim, comparado a Lula, é um falastrão. Ontem deu a quinta coletiva de seu segundo mandato, que começou em janeiro; no primeiro, dera 12, ou três por ano, contando-se somente aquelas em que não estava na companhia de outra autoridade.

Quando estava no terceiro mês do terceiro ano de seu primeiro mandato, isto é, na iminência da guerra no Iraque, em 2003, Bush deu sua oitava entrevista solo. Segundo o levantamento da professora Martha Joynt Kumar, à mesma altura de seus respectivos governos, Clinton já concedera 30 coletivas solo, enquanto o pai de Bush dera 58.

Nos seus dois anos de mandato, Clinton concedeu 62 entrevistas coletivas sozinho, duas com outros integrantes do governo e 129 com líderes estrangeiros. Total: 193. Bush pai deu 142 ao todo.

Falso jornalista causou escândalo

As coletivas solo têm duração de 45 minutos. Quarenta e cinco minutos são suficientes, em geral, para mais de 20 perguntas, mas o universo de jornalistas na Casa Branca chega a cem repórteres. O presidente escolhe seus interlocutores. Como acontece com as coletivas americanas, não importa quem esteja sendo entrevistado, o jornalista que deseja fazer nova pergunta a partir da resposta dada tem de anunciar que se trata de tréplica, dizendo follow-up ("subseqüente"). O presidente então decide se concede a tréplica. Não conceder faz parte do jogo.

As coletivas de Bush filho causaram polêmica quando comentaristas políticos na internet descobriram que um novato que fora escolhido pelo presidente para uma pergunta numa coletiva em janeiro deste ano se apresentava sob pseudônimo, não é jornalista e pertencia a uma organização de ativismo direitista, tendo reescrito notas do Partido Republicano à guisa de reportagens. O porta-voz de Bush, Scott McClellan, negou que o pseudojornalista tenha sido plantado pelo governo nas coletivas presidenciais.