Título: BANCO MUNDIAL COBRA MAIOR AJUDA DOS RICOS
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 18/04/2005, Economia, p. 17

Países mais prósperos não cumpriram promessa e destinam só 0,125% do PIB para a redução da pobreza mundial

WASHINGTON. A reunião semestral conjunta do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (Bird) foi encerrada ontem com a constatação de que a maioria dos 22 países mais ricos do mundo não está cumprindo a promessa, feita três anos atrás, de ajudar os países em desenvolvimento a combater a pobreza. Eles se comprometeram a dar uma ajuda anual equivalente a 0,7% de seu Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas produzidas no país ao longo de um ano). No entanto, até agora, a contribuição não passou de 0,125%, em média.

Meta de reduzir pobreza pela metade está ameaçada

Por isso, está se tornando impraticável reduzir a pobreza no mundo pela metade até 2015, a primeira das chamadas Metas do Milênio, conjunto de compromissos assumido por 189 países que integram a ONU.

¿ A menos que as contribuições alcancem ainda este ano o volume prometido, podemos dar adeus a essa meta ¿ disse o presidente do Bird, James Wolfensohn, em café da manhã com um pequeno grupo de jornalistas.

Mais tarde, no Comitê de Desenvolvimento do FMI e do Bird, cujo principal tema foi justamente esse fiasco, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, sugeriu que em vez de doações a questão poderia ser resolvida de outra forma, e com um efeito bem melhor: a liberalização do comércio. Segundo Palocci, a abertura comercial propiciaria uma entrada de recursos superior ao volume prometido, de US$60 bilhões anuais:

¿ Uma conclusão exitosa da Rodada de Doha (da Organização Mundial do Comércio) resultaria em ganhos globais de cerca de US$250 bilhões anuais, sendo que um terço desse total caberia aos países em desenvolvimento.

O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, John Snow, tentou disfarçar a falha de seu governo. Disse que no ano passado os EUA aumentaram sua contribuição em US$2,7 bilhões e, com isso, sua ajuda anual passou para US$19 bilhões. Um cálculo imediato, feito pelos participantes da reunião, indicou que isso não passa de uma migalha, o equivalente a apenas 0,1% do PIB americano.

Snow disse ainda que os países pobres vêm se beneficiando das remessas de dinheiro dos imigrantes que trabalham nos países ricos, que atingiram US$126 bilhões no ano passado. Wolfensohn, porém, rebateu dizendo que ainda assim os ricos precisam ser mais generosos:

¿ Ainda que os investimentos diretos, as remessas e as exportações sejam fontes importantes de recursos, não existem substitutos ao financiamento oficial do desenvolvimento.

Palocci: ajuda é irrisória, fragmentada e volátil

Em entrevista no final da reunião, Palocci disse que os indicadores sociais do Brasil estão caminhando bem para as Metas do Milênio ¿ que incluem, além da redução da pobreza, objetivos relacionados à educação, saúde, meio ambiente e igualdade de gêneros ¿ e que o país deverá cumprir a maior parte delas até 2015. Ele lamentou o aparente descaso das nações ricas, e mencionou especificamente os EUA e o Japão.

No discurso frente a colegas de todo o mundo, Palocci não poupou farpas, dizendo que, além de serem irrisórias, as contribuições têm sido acompanhadas de custos:

¿ A ajuda é fragmentada, volátil e alinhada mais com as agendas dos países doadores. Além disso, ela implica em altos custos de transação.

Uma alternativa para incrementar a ajuda recebeu ontem o aval do Bird e do FMI. A proposta britânica de que alguns governos emitam títulos para financiar programas de vacinação infantil terá um projeto-piloto. Outra sugestão, de cobrar uma taxa de dois dólares sobre a compra de passagens aéreas internacionais, será discutida até setembro